- Não sei se é certo: Ele é estranho.
-Estranho não é bem o termo que facilita o entendimento da figura. Diêgo é extremamente um monte de coisa e cada vez que ele aparenta ser um monte de coisa, ele muda.
-Muda mesmo. É contraditório.
- O quê?
- Ele. Diz que gosta de pessoas simples, e é tão complexo. Seria melhor dizer: complexado?
- Não sei.Se eu pudesse ajudá-lo. Sei-lá, ele parece ser indefeso. Você já reparou os olhos dele?
- Que é? Vai dizer que são olhos de cigana...
- Não. É como uma pintura de Van Gogh: são dois girassóis naquela face carrancuda, dois girassóis perdidos e desvalorizados pela alma dele, que suspira dentro de um corpo quase sem tato.
- Olhando bem, você tem razão. Dois girassóis perdidos, à deriva de um olhar deslocado em relação à alma. Por que será que ele perdeu a graça de viver com/para/pelos outros?
- Ele não perdeu a graça de viver... ele esconde. E por qual motivo ele faz isso? Frustração, talvez, quem sabe o que vem depois da fase da carência. Um problema de ordem sexual, por isso psicológica. O que importa é que todos nós sabemos a razão de nossos problemas, principalmente ele.
- Aquele ar de introspectivo...
- É dele.
- Aquele ar de individualismo...
-É dele.
- Aquele ar de amante inconfessável...
- Também. Ele é muito mais do que aparenta ser, e pensa que é muito menos. Eu acho que ele ainda não decifrou a essência de Shakespeare para entender-se.
- Quer saber?
- O quê?
Olharam-se e entrelaçaram os braços, transformando-se, ambos, em suspiros de uma noite de verão.
quinta-feira, fevereiro 10
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