sábado, abril 23

Escolher as Escolhas

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Escolher, colher, calhar, colher... estou estudando poesia concreta para uma análise surpresa de alguma produção textual de Décio Pignatari, e a verdade é que isso de poesia concreta é muito bom com o muito ruim que ela tem.

Nas pesquisas realizadas, já descobri que não foi uma invenção brasileira, apesar do destaque incomensurável da sua repercussão "pelas terras tupiniquim". Os maiores nomes, isto é, os fundadores dessa vanguarda(grupo de pessoas que estão à frente de movimentos progressistas, o contrário de vanguardista é reacionário, aqueles que querem recuperar, investir, vestir-se de passado) são: os irmãos Campos (Haroldo e Augusto) e Décio Pignatari ao terem lançado a revista Noigrandes (uma palavra retirada de um livro de autor britânico que significa NADA, não nada, nada, não significa nada, é um vazio, que não significa necessariamente vazio), em 1952.

"O poema concreto comunica a própria estrutura: estrutura conteúdo. O poema concreto é um objeto por e em sim mesmo, não um intérprete de objetos exteriores e/ou sensações mais ou menos subjetivas. (...) seu material: a palavra (som, forma visual, carga semântica)".
Fonte: http://www.poesiaconcreta.com.br/

Os concretistas prezam pela racionalidade, objetivando visões. A palavra agora é algo verbivocovisual (palavra retirada do livro do Guimarães Rosa norte-americano, o James Joyce), abrange a palavra como ação, por isso "verbi", a palavra como som, por isso "voco", a palavra como símbolo, desenho, estrutura, por isso "visual". A graça do concretismo é o realce dado as palavras, que deixam de ser traços dispostos em linha reta e assumem uma figuração, um desenho, um sentido além dela mesma. Há a relação de estrutura e conteúdo, algo totalmente necessário na nossa sociedade cada vez mais detentora e inquisidora de dicotomias.

Viva as escolhas, dentro do cabível. Mas é inconcebível dizer que a racionalidade e a objetividade sobrepõem-se à subjetividade, visto que arte é subjetividade. Aqui estaria eu querendo abrir o mar vermelho em duas partes, vítima virulenta da doença "dicotominante" da sociedade.

Desconstruir é uma das palavra de ordem. Por isso as letras se perdem e se agarram às margens, brincam de ser rodapé e cabeçalho. Daí a razão de ter escrito colher, calhar, escolher.

Estou em dúvida...duo, vida,
vi da vida... E a duovida só existe devido a mais de uma opção, a indecisão é isso, que muitas vezes é composta de dois caminhos: sim ou não, é impossível o sim e não. É sim ou não, OU é a onomatopeia do bom velhinho do natal, nos traz presentes ao ritmo do seu riso/gargalhada rOU, rOU, rOU. Como se estivesse querendo dizer que roerá o máximo a nossa vida interior, a nossa existência por meio da dúvida.

Mas me descobrindo, me descobrindo mesmo, estou aprendendo a saber quem sou por meio do que faço, opto, escolho. Como se estivesse colhendo as minhas escolhas desde criança, mapeando os meus desejos, investigando o meu inconsciente à luz da consciência de agora, que pode me induzir ao erro.

Mas me descobrindo, me descobrindo mesmo,percebo que não nasci para sim ou não, não sou filho do OU, ainda que tenha de conviver com ele. Sou filho do e, meu signo é Áries e meu elemento é fogo. O fogo não é um ponto de decisão; o fogo é um "e" que se alastra e vai sendo faísca, fogo, fogaréu, fornalha interior.

Entre o sim e o não,
um anjo torto, quando nasci,
disse: vai, abre os matos, junta os caminhos, inventa atalhos!
Um anjo torto, quando nasci,
disse: vai, tu serás escritor e é preciso conhecer as travessias da vida.

Então, meu anjo abandonado, quero ter a certeza de ser filho do "e", amigo do sim e do não. Não quero papo com o mais ou menos, não quero ser radical... isso tudo, posso resumir, anjo meu, em: e... essa letra tão estranha... que liga e contradiz... a letra "e" manuscrita é mais linda ainda. Um laço, um laço fácil de ser desenlaçado.

Na dúvida,
pense, repense, pondere, tenha consciência do depois, consciência das causas.
Nós podemos fazer a mesma merda em outro tempo, pense nisso se o impacto for maior agora.

Na dúvida,
ande pelas beiradas... só não ignore, o vício de ignorar tornar-nos ignorantes.

A dúvida e a certeza quando não separadas em duas palavras assume qual sonoridade, qual forma, qual ação?

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