Tem a cabeça muito grande. Os braços debilitados e as pernas sempre prestes a correr. Os dedos calejados, na mão e no pé.
Tem o coração grande e espaço suficiente para sempre amar mais, ter mais, querer mais. Seu peito é largo, por isso, talvez, se coloque na linha de tiro. Suas unhas são miúdas, sem garra para conseguir tudo acima de qualquer outra coisa. Abre mão de amores, flores e amizades, ainda com as unhas tão bem cortadas. Os olhos profundos e complexos, aguados de tanto sofrer pelo que pode fazer e não faz. Na palma da mão ele tem um "M" igual a muitas pessoas. Um dia ele encontrou um "R", depois, um A, em seguida, um "O". Foi a uma cartomante sem conhecimento de quirologia e ficou sabendo da mulher de sua vida viver em ROMA.
Ela não estava lá.
E estudou matemática. Fez anagramas. Permutas. Teorias. Fórmulas. Cego por não colocar as coisas em ordem. Tinha perdido a beleza do poder da simplicidade, algo fácil no mundo louco e ritmado descompassado. E usou a mente. Usou o olhar desabitual:
A-B-C-D-E-F-G-H-I-J-L-M-N-O-P-Q-R-S-T-U-V-W-X-Y-Z
Na sua mão, AMOR. Lembrou das horas do banho e do arrepio do sabonete esfregado na pele. A mão na pele, em toda pele, por toda pele pelada. Amara a si mesmo, e não notara. Já era tarde, estava em Roma. Havia guerra e uma bomba explodiu.
Desfigurado no ar, percebeu a proporcionalidade interior sintonizado aos membros. Em fração de segundos, reconheceu o valor de cada parte já separadas no ar. Como se sobrevivesse entre a morte e a vida e notasse o fim da arquibancada.
A cabeça muito grande se foi, direto ao chão, ensaguentada de racionalidade vil. Os braços debilitados e as pernas sempre prestes a correr, foram inúteis na hora da morte, e o pior, durante a vida toda. Os dedos calejados, na mão e no pé; único orgulho de ter usado alguma coisa. O coração grande alimentou uma matilha faminta. As unhas miúdas desapareceram quando quis no último instante permanecer vivo. Agarrou no carro, lá elas ficaram a sós. Um corpo inútil, um espírito arrependido. Havia guerra e uma bomba explodiu.
segunda-feira, agosto 9
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2 Response to O Perceber, O Notar, O Entender
Ow... que lindo...
goxtei!!
Olhei para a palma da minha mão procurando o M, e vi. Fui mais além, achei outras letras... V, A, T, X e outras ... se tivesse as letras que formam a palavra amor na palma das nossas mãos, acho que elas seriam menos maltratadas. Bastariamos acenar para dizer a outras pessoas que amamos, somos humanos, já mudos para falar algo tão especial.
Bom, gostei muito do texto, muito mesmo. Me fez pensar, e vc sabe... gosto de pensar.
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