quinta-feira, agosto 26

Um Homem Só

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(Cadeira de balanço, homem só)

As cartas voltarão, não quero saber nada sobre Julieta. Nada, exatamente, nada! Se ela morrer, ora, morra! Vou deixar as coisas acontecerem sem interferir nos desígnios de Deus; mesmo sendo eu um ateu. Cansei de me responsabilizar pelas coisas e de levar uma vida cartesiana e de ser lógico. É. Cansei de ser lógico! Vou tentar me perder em confusão, meio de repudiar essa academia maldita que me roubou mais de doze anos de vida em troca de títulos para apenas aumentar dígitos na minha conta bancária. A duras penas lutei por amores, cansei, suspirei, imaginei e sofri. Vou tentar seguir uma filosofia libertina, abrir mão desses amores puros e castos. Cansei de amores puros e castos! Julieta, para mim, faz eu me sentir puro e casto. Porra, Shakespeare, você tinha que me criar assim? Seus homens sempre atormentados com sentimentos universais? Eu vou abrir mão dessa história, juro! Vou abrir mão. Esses nomes são deveras... eles carregam alguma coisa.

Deixarei as cartas voltarem. E a casa ficará com teias de aranha, se minha boca também ficasse. Deixarei a comida para as baratas. Esquecerei de escovar a boca. Abrirei mão do meu trabalho. Não atenderei o telefone. Esquecerei de mim e do mundo. E para mim, para mim, pouco importa o que o mundo pensa e acha de um homem só. Sou só e já não preciso do mundo para nada, a não ser para ler uns livros e saber que eles existem em caso de emergência. Vou tentar ser menos lógico.

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