sábado, julho 3

Sobre Hoje

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e os restantes outros dias...

Desejo, ardentemente, virar ar e flutuar por aí espalhado. Eu tenho me sentido tão abstrato, tão distante, distante do mundo e bem próximo de mim mesmo: tenho me reconhecido feito antes e agora.

Na verdade, eu estou completando o quebra-cabeça da minha personalidade e de quem serei de verdade antes de entregar meu corpo a personagens. Faço teatro, você já deve saber. Sempre tive medo de me perder entre livros e humanos fictícios permanentes e influenciadores; estou me firmando, estou amadurecendo. É tão lindo amadurecer. Sabe o motivo?

A gente descobre a vida incontralável, as coisas incontroláveis e o poder do acaso. Acaso? É o acaso que somado com seus parentes casuais formam o destino. A gente descobre a graciosidade do mais importante em nossas vidas: o tempo. A gente reconhece a conveniência do tempo de amar, sofrer, chorar, rir, calar, emudecer. Há o deleite nas pequenas coisas e a satisfação de saber da sua existência.

Têm pessoas não sensíveis a nada do citado no processo de amadurecimento, elas escolhem outros caminhos. Algumas se empenham em nadar contra a correnteza voraz das horas e se agarram e ficam. Ficam no lugar já estado outrora, e ficam, ficam, ficam. E, de repente, querem ir... porém, vão só. Sozinhas sem correnteza e caladas, e inimigas de si.

Carambola, que diabos hoje aconteceu para você está sentindo tudo isso?

Em linhas rápidas: acordei no horário habitual, almoçei com minha vó, assisti ao jogo da Argentina e Alemanha, fui ao teatro, caminhei sozinho pelas ruas de Juazeiro. E o resto? Tudo está aí, colega, tudo está aí pelo durante. Durante o almoço e olhar doce de minha vó que certo dia me deixará sozinho no planeta. E eu sinto isso, sabe? Sinto essa certeza amarga se fortalecendo como uma espinha que se forma na face e deixa a aspereza no local certo (ontem, eu espremi uma espinha, espinha original mesmo, e apertei muito para ser presenteado com o liquido amarelo-ouro da vitória sangrenta do final).

No dia certo, na hora certa o relógio vital de meus parentes mais próximos expirará. Eu verei meus netos e deixarei-os. Morrerei como qualquer mortal. Será meu fim. Saber disso já me deixa vulnerável.

(O Hoje do texto refere ao dia 03 de Julho de 2010, o texto foi escrito na transição do dia 03 para o 04)

1 Response to Sobre Hoje

Anônimo
5 de julho de 2010 às 23:20

Asneira, citava o mais importante, vc ficou na "catraca" da barquinha esperando pra saber se ela ia girar ou não...mas, girou.