segunda-feira, janeiro 25

Atira-se ao Palco

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Comemorar cada passagem lembrada, sentir cada risco improvisado, temer um tropeço em pleno climax de serenidade, pipocar em palmas, sentir-se palmas. Som, Luz, Público, Atores, Texto! Quando...

Quando eu estive sozinho no público, e todos os outros estavam preparando a maquiagem, arrumando o figurino - eu lá, parado e encarando o palco vazio sem som e fúria! Respiro aquele instante ao ritmo em que escrevo esse texto. Só Deus sabe o orgasmo múltiplo de ter ficado alí, sentindo o palco chamar-me. Uma sedução forte, com cores fortes.

Aquele povo feliz no camarim, rasgando o meu corpo aos poucos a vontade de estourar em lágrimas e gritar que amo quem ama a arte, amo quem ama teatro, amo quem ama a vida em sua vasta simbolização representativa. O menino maquiando a menina, que menino puro, bonito, selvagem, moderno, pleno! A menina de nervos estampados maquiando a menina! A menina de doce sorriso, doce corpo, doce olhar - a menina doce - maquiando a menina. Eu alí assistia aquela confraternização, cheirava amor! Amor de quem fica e nunca vai! O garoto enclausurado no corpo do homem já vestia a saia e seus olhos retocados de um preto cintilante apontava a verdaeira identidade de quem ama, e amar é tudo! "Amar, verbo intransitivo".

Tenho de aprender a saber que o meu presente não é o meu passado! Não queria ser um colecionador de nostalgia, pareço está dessa maneira a cada dia. E sei que é lá, lá no próximo do palco que o meu guri, inconformado no meu corpo jovem, se revela guri. Um guri em sua maturidade espiritual. Eu sinto o espirito santo que Florentino Ariza tanto parecia obter consigo.

Se eu tivesse escutado minha vó:

- Você ganha quanto com isso de Teatro!?

Se eu tivesse escutado meu pai:

- Isso só dá dinheiro no Rio de Janeiro.

Enfim, se eu tivesse escutado a sociedade da ligeireza... se! Não estaria aquí feliz, compartilho essa glória! Por mais rídiculo que pareça ser a quem de fora vê, me sinto feliz pelos bloquinhos do espetáculo. O café de Thom, as garrafas enchidas de água, as escadas colocadas em seus devidos lugares, a marcação de texto, as broncas do diretor já citado ("Onde é a parte? ... Ai, Diêgo você tá com o texto na mão!!!"), as sandálias recolhidas, as janelas abertas para entrar ar e não posso deixar de falar do fluxo da minha energia!

Sentir seu nome na boca de quem reconhece! Sentir as palmas por mais indireta que seja! Sentir o tempo não mais existir! Viver uma atemporalidade em alguns segundos, o que mais isso se assemelharia a não ser um gozo? Deve existir outro nome para a sensação que carrego. Uma mistura do chavão "dever cumprido" ao "efêmero gozo". Uma sensação de que isso vai acabar, mas na certeza de que ocorreu. E o abraço de Brisa! A companhia de Junior! A público suficiente para o reconhecimento de sangues convertidos em suores derramados! O toque de Anderson! O sorriso ao telefone de Thom! O "Valeu, Di!" de Diana! A disposição de Jane e a sensualidade em expansão que contaminou pontos da minha imensa pele! A insegurança de Fernanda em ascensão e fadada ao inverso denominada coragem!

A gente alí, todos no palco com as mãos uma sobre a outra. A gente alí, e o grito forte (o meu maior grito já gritado no SESC), grito de boa sorte adaptado em "Merda, Merda, Merda!!!".

Comemorar cada passagem lembrada, sentir cada risco improvisado, temer um tropeço em pleno climax de serenidade, pipocar em palmas, sentir-se palmas. Som, Luz, Público, Atores, Texto! Quando...

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