sexta-feira, setembro 10

O Jovem Amortecido

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"The lights go on
The lights go off
When things don't feel right
I lie down like a tired dog
Licking his wounds in the shade(...)"
(Scenic World - Beirut)

Sentado dentro do ônibus estava ele pensando sobre si e as coisas, ora fechava os olhos e tentava se compreender, ora procurava um apoio na biografia de Clarice e teve um insight:

Eu não preciso me explicar.

Fechou os olhos e passava pela ponte em alta felicidade contida, no embalo da alta velocidade do motorista, seu cabelo balançava, suas pestanas também, seu coração parecia ter esquecido de usar adrenalina em troca de outra substância.

Sentado na cadeira do ônibus, calado e cartesiano, pensou que estava no caminho da insensibilidade e, agora, bem próximo de um coração selvagem se via diante do abismo das paixões das quais queria escapar e ignorar. Já tinha lido algo sobre o abismo, e quando chegou em casa, com vontade de divulgar, compartilhar seus anseios, prazeres e dores, procurou no Google:

"Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para dentro de você".

Na lembrança, ele (Nietzsche) não estava lá. Ele estava calado, juntando peças do quebra-cabeça para falar algo ao seu aprendiz de díscipulo. Insight:
Eu não necessito ter as mesmas leituras.

Próximo do ponto de ônibus da casa dele, pensou em descer no ponto anterior. Quem sabe assim posso encontrar algo que tanto procuro. Mas desistiu, recordou:
"Eu não posso desperdiçar o meu tempo".

Postando esse texto, simultaneamente ao procurar a frase sobre o você olhar para o abismo e o abismo olhar para você, prezou por uma das provocações citadas por ele (o outro):

"Você vive hoje uma vida que gostaria de viver por toda a eternidade?"

Decidiu lutar contra as paixões, se arriscar à extrema sensibilidade de ler Clarice, continuar tentando ser um Superman... Decidia numa intensidade louca... Insight:

Eu estou morto!

Teve tal iluminação ao dormir no instante sentido do coração parado, tinha esquecido de descer do ônibus. Ao instante em que descia do ônibus, do ponto que desceria ao ponto que desceu, o coletivo foi atingido por uma pedra gigantesca, somente ele morreu, pelo menos é o que sua mente remonta (um incidente em Juazeiro da Bahia). Agora ele já estava morto, com a certeza de que céu e inferno não existem, assim como a vida só tem graça se tiver sentimento, e todo sentimento é válido quando não há céu nem inferno. Por isso, portanto, não faz sentido ter medo de encontrar o temido. Medo? Morto teria medo de quê? Brás Cubas teve medo de algo? Talvez da própria vida. Porque ter a vida é ter diversas condições, correntes, cadeados, agora estava morto, estava livre. Agora livre, não queria mais viver. E até mesmo Deus, quando morto, é mais poderoso ainda.

J.D.S.G. tinha morrido. Permanecerá com a imaginação de que está vivo estando morto. E o tempo? O sentimento? As coisas? Os amigos? Tudo continuaria a mesma coisa com o imenso detalhe de ser visto, sentido, observado, amado por outro olhar, um olhar vivo de um morto. Insight:

Bem, quando bem morrermos estaríamos prontos para a morte?

De vez em quando, alguma pérola. De vez em quando, algum sopro. De vez em quando, alguma voz sairá intensa das minhas mãos abrangendo meus dedos, sendo sempre que a mesma voz pode não está por aqui, pois o vento é forte e a asneira é fraca. De vez em quando, perdendo a vida segundo alguns colegas festeiros, estarei ganhando a morte. A morte, irresistivelmente, não pertence somente a geração do mal do século. É ela a meretriz mais cara e barata, um ponto de interrogação em constante fluxo.

Insight:

Bem, quando bem morrermos estaríamos prontos para a morte?

Ele quer amar, mas sabe que não há controle. Ele quer seguir pensando estar morto, pode ser capaz. Quer viver morto. Uma única corrente não impede de ser livre: amar o próximo. Isso não seria uma corrente, diz o Nietzsche idealizado na sua consciência, seria um elástico.

Insight:

Bem, quando bem morrermos estaríamos prontos para a morte?

"(...)When i feel alive
I try to immagine a careless life
A scenic world where the sunsets are all
breathtaking"
(Scenic World - Beirut)

1 Response to O Jovem Amortecido

Wiliana
11 de setembro de 2010 às 00:29

Indizível...
Silencioso e, simultaneamente, gritante.
Amei!!!
Bastante clariceano... ;)
Realmente... Deixou-me sem palavras...
Muito feliz!!!