(pode parecer um texto de Caio Fernando Abreu, eu só conheço um texto desse magnífico escritor, e boa parte de sua biografia sei bem)
Todo mundo tem um jardim que começa na mente e termina no coração, embora muitas flores criem raízes ao inverso ao começarem no coração e se alastrarem pela mente. Alguns podem até dizer que não, "eu nunca tive jardim nenhum, isso é apenas frescura e mais uma metáfora totalmente fora do que meta", quem diz está certo, quem sou para dizer que existe um jardim numa mente de solo infértil. "Minha mente é muito fértil, meu querido". Não, não para a semente que quero lançar.
Meu jardim sempre foi mais grama do que flores. Tenho umas flores lindas, poéticas, femininas e libertas. Tenho um pequeno duende que amo muito e veste saia, corre, pula, canta, grita, manda, dá risada, chora. Uma borboleta, apenas uma borboleta que parece se multiplicar e pousar em todos os cantos, com a vontade de todos os aromas e o desejo de conhecer cada lugarzinho ao sol e à sombra. Meus jardineiros: meus personagens, minhas atitudes e minhas palavras.
De repente, não tão de repente assim, nasceu uma flor estranha que me intrigava e ainda não tinha cheiro de nada. Ela tinha as pétalas amarelas, o pedúnculo verde, o receptáculo azul e o gineceu vermelho vivo que parecia descongelar um sangue. Não me lembro como era o jardim antes dessa flor irromper do solo com uma fúria! Colocou-se no meio com uma arrogância e maestria, e disputava olhares; tive (e talvez até hoje tenho) medo de ser uma flor carnívora. Um dia desses a única borboleta pouso sobre as pétalas amarelas, de longe fiquei tenso e apreensivo, muito medo de um dos dois não se completarem, ao passo que aquela planta era temida, era também desejada a permanecer ali, e a borboleta era única, não só por ser única, era também realista fantástica. Espanto foi observar as pétalas e as asas se completarem e se acariciarem com uma plenitude que eu não sei como.
A borboleta tão doce e de cores tão vastas. A flor tão selvagem e de cores tão poucas. Mesmo desconfio, na mesma semana, a flor tentou arrancar os pequenos braços do Duende, e como se não percebesse nascia sorrateiramente uma outra flor subjugada a sua sombra, uma florzinha rosa crescia dissimulada. Mais perigosa e mais selvagem. Não tinha receio, sabia que aquela sim era carnívora e ameaçava todas as outras flores do meu jardim, inclusive a própria flor que a acolhia em sombra. De cor rosa, rosa bebê, não daria nada. Cortei todas as pétalas rosas, deixei apenas a raiz para que talvez cresça comportada e menos destruidora. Espero a todo instante um ataque da flor centralizada, autoritária e dona de si mesma. Já não ando com uma tesoura na mão, forma que andava anteriormente a conhecê-la de fato. Uma pequena linha foi colocada próxima da raiz profunda, uma linha cortante que se faz fácil e possível. Deixemos a flor possivelmente carnívora.
Uma rosa vermelha de óculos parece muito me estimar; simples, pura, casta, inteligente, afável, amável. Uma rosa de cor-de-rosa ilumina o meu jardim com um sorriso que não parece personificação, parece real, tão real que posso enxergar deslumbrado a seu cheiro e a sua beleza de composição delicada. Tem margaridas no meu jardim, tão sociáveis são que não abrem mão de conversar e sorrir para as outras plantas. Uma margarida, em especial, de beleza ardilosa.
Fertilizantes? Os melhores e mais influentes na conexão mente-coração da minha existência. Até o eu já morto propõe vida ao meu jardim vivo, pulsante e, por isso mesmo, sensível.
Tem tantas coisas no meu jardim. Tem um espaço cinza dedicado as flores que ficam embaixo da terra, "amigas da sabedoria" interna, profunda. Tem tantas coisas no meu jardim. Tem um espaço dos outros escritores; colho pedaços de plantas e coloco no meu jardim.
Em um lugar de solo puro, com licença às regras normativas, com pedrinhas ao redor, com sapinhos de gesso, existe um lugar. Um espaço bem preservado, bem cuidado, bem desenvolvido onde aí pode ficar um ser especial, que pode ser flor, pode ser demônio e podem ser deuses a depender de como se apresente e de como consiga se situar por ali. O caminho dali é tão estreito e tão vigiado, dando a definir: impenetrável. Não é, isso é apenas cuidado, zelo, dedicação e espera. Quem sabe eu reconheça nas flores que tenho, que tenha uma flor brotando por ali e eu não saiba, que desabe do céu. Um dia esse espaço foi precipitadamente preenchido por uma flor chamada Alanna. Tão precipitadamente a mesma flor se desfez e afundou no solo tão fértil que parecia areia movediça.
Existem tais flores assim na sua vida? Quais as flores que você reconhece? Quantas borboletas você tem? Qual a sua água? Qual o seu sol? Qual a intensidade da sua energia luminosa? Qual o resultado da sua energia química? Pela noite, o seu jardim tem luz? É você que rega? Seus fertilizantes são mesmo fertilizantes? Você usa placa para não pisarem no jardim?
Responda, por favor. Eu preciso de sua resposta! Eu imploro! Eu suplico! Eu ainda não sei cuidar do meu jardim, e ele ultimamente está tão bonito.
domingo, setembro 19
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1 Response to Passagem
Seus fertilizantes são mesmo fertilizantes? Você usa placa para não pisarem no jardim?
Não, não existem.
Não reconheço flor alguma.
Borboletas, várias principalmente no curso de artes. =D
Minha água é "meu suor", e com ele eu só rego "a flor" que não conseguem por si só sustentar-se.
Meu raio de sol é... (ainda sem resposta)
(ainda a pensar no sol)
Ta, fotossíntese. xD mentira. eu prometo pensar seriamente sobre a questão do sol. afinal as perguntas só se respondem com a definição exata de qual o meu sol.
Pela noite, é a única luz que eu conheço existir. A luz da minha sanidade, vontade e consciencia.
Sim, como ja disse lá "emcima" na questão 4
eu uso um fertilizante muito bom, chamado insensibilidade. Todas as plantas e flores adubados por essa quimica de falta de sentimentos, tentem a olhar para as plantas que morrem no meu jardim, e não sentir pena ou dor, mas sim, aprender como não morrer.
quanto ao resto das perguntas e as que ficaram no ar, eu um dia paro para pensar TamBém sobre elas.
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