terça-feira, junho 22

Entre Mortos e Vivos

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Já brinquei de "Morto e Vivo", jogo de sentar e ficar em pé. Nunca pensei em perguntar o estado pacífico do morto. E ontem estava passando um programa na TV Cultura chamado Café Filosófico com tema de O Ritual da Morte; o palestrante, infelizmente não recordo o nome, dizia sobre o entendimento dos vivos em relação aos mortos. Dizia dos vivos culparem os mortos no momento extremo de desespero.

Por que você me deixou?
Não faça isso! Não vá!

E realmente é assim. Nas restantes outras maiorias acontece do sentimento calar-se, a culpa continua sendo do morto, surge a angústia, a depressão.

Já parou para pensar que só a humanidade tem espírito? Os animais não. Animais mesmo, de fato. Começo a discordar um dia depois de ter escutado essa indagação em outras palavras na voz do palestrante. Um dia depois do Café Filosófico tive de assistir Marley e Eu, acabei dormindo no meio do filme e não contemplei uns quinze minutos da trama. Ainda assim continuei atento depois de abrir os olhos e vê os filhos do dono de Marley já grandes. Acompanhei a relação dos meninos com o cão e a velhice que chegava (eu tenho uma sensibilidade extrema pelo tema velhice, talvez culpa da minhas adoráveis avós) e se alastrava paulatinamente. A sensação de despedida e de véspera do fim fo mundo dura uns dez minutos, tempo este suficiente para eu ficar com um nó da garganta, um gosto amargo de realidade existencial. A Velhice e a Morte, parceiras. O filme contornou toda a minha sensibilidade e mostrou a fronteira da vida e da morte, mostrou-me a LEMBRANÇA. Lembrança que pode ser e não ser a tão comentada SAUDADE. Lágrimas despretensiosas se arrastaram pela minha face, minha mão foi enxugando minuciosamente o meu rosto para meu irmão mais novo não notar e perceber o potencial masculino do irmão mais novo (tem cada coisa que penso que, às vezes, penso até ser outro).

Estou lendo Pedro Páramo coincidentemente ou ironia da minha vida Marqueziana; me confundo em saber a cisão desses mundos. Um quase virtual, mas tão real. Outro real, gradativamente virtual. Noto de estarmos nos perdendo e invadindo espaços que não são nossos. A gente parece morto quando prefere dizer eu te amo por orkut, outro mundo que ilusiona uma sensação de Romeu e Julieta, a dizer frente a frente, cara a cara, corpo a corpo. E tudo isso vai sendo traçado nesse mundo sem o brilho do olhar vivo, intenso de Chaplim.

São doze horas e quarenta e seis minutos do dia vinte e dois de junho. Termino por aqui, escuto barulhos estranhos vindo do muro. Tenho medo e a culpa não é minha.

É SIM!

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