Somente sozinho estava. Sentado olhando o quadro branco preenchido de nada, branco. As cadeiras vazias e a mesa do professor sem material propiciavam ecos ao barulho do ciclone.
Ela chegou quando ele não queria ir.
- Você vai ficar aí?
- Eu acredito tanto nisso. Eu quero tanto me entregar...
- Não importa. De que adianta se entregar se as pessoas não desejam recepcionar? Vem logo, me segue!
Riscou o braço da cadeira de um vermelho intenso, riscou mesmo sem sentido algum. Ficou na carteira uma mancha que parecia cicatriz.
- Te espero lá fora.
- Tá.
Tocou as paredes, brincou de ligar e desligar as luzes, imaginou o barulho e todas as brigas da sala de aula; procurou o rosto de cada dono do lugar marcado, mas não havia ninguém. Algumas lágrimas escorreram pelo rosto quente de tanta avidez por conhecimento, justamente aí que abriu a bolsa e sentou-se na mesa da sala e começou a ler desesperadamente.
Metido em Paulo Freire, Jean Piaget e Vigotsky foi percebendo o distanciamento e a aproximação pelo embate do conhecedor x conhecimento.
- Você vem?
Tinha dormido sobre as páginas.
- Hélio?
Levantou a cabeça dele e percebeu os olhos banhados de tinta vermelha, a respiração lenta e a paixão já nas últimas.
terça-feira, março 16
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3 Response to Greve e Crise
Adorei, me sinto asssim, uma inútil da cultura, uma prateleira de perfumes, uma idólatra...
Boa ficção, quero ver mais.
Beijos
Marci Kühn
Sim, sim.
Muito prazer!
(Enorme, gigansteco)
olha eu aki denovo...me indentifiquei muito com esse texto e com outros que vi por aki...virei mais q seguidora...ja sou fã
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