terça-feira, março 16

Greve e Crise

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Somente sozinho estava. Sentado olhando o quadro branco preenchido de nada, branco. As cadeiras vazias e a mesa do professor sem material propiciavam ecos ao barulho do ciclone.

Ela chegou quando ele não queria ir.

- Você vai ficar aí?

- Eu acredito tanto nisso. Eu quero tanto me entregar...

- Não importa. De que adianta se entregar se as pessoas não desejam recepcionar? Vem logo, me segue!

Riscou o braço da cadeira de um vermelho intenso, riscou mesmo sem sentido algum. Ficou na carteira uma mancha que parecia cicatriz.

- Te espero lá fora.

- Tá.

Tocou as paredes, brincou de ligar e desligar as luzes, imaginou o barulho e todas as brigas da sala de aula; procurou o rosto de cada dono do lugar marcado, mas não havia ninguém. Algumas lágrimas escorreram pelo rosto quente de tanta avidez por conhecimento, justamente aí que abriu a bolsa e sentou-se na mesa da sala e começou a ler desesperadamente.

Metido em Paulo Freire, Jean Piaget e Vigotsky foi percebendo o distanciamento e a aproximação pelo embate do conhecedor x conhecimento.

- Você vem?

Tinha dormido sobre as páginas.

- Hélio?

Levantou a cabeça dele e percebeu os olhos banhados de tinta vermelha, a respiração lenta e a paixão já nas últimas.

3 Response to Greve e Crise

17 de março de 2010 às 02:10

Adorei, me sinto asssim, uma inútil da cultura, uma prateleira de perfumes, uma idólatra...
Boa ficção, quero ver mais.
Beijos
Marci Kühn

17 de março de 2010 às 12:51

Sim, sim.

Muito prazer!
(Enorme, gigansteco)

17 de março de 2010 às 13:30

olha eu aki denovo...me indentifiquei muito com esse texto e com outros que vi por aki...virei mais q seguidora...ja sou fã