sexta-feira, março 19

Nudez Humana em Tempos Selvagens

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Cheiro as unhas da minha mão carregada de grude, me vejo porco e imundo; imagino minha mãe nua e meu irmão beijando minha tia. As casas caídas umas sobre as outras como cartas retalhadas depois do castelo desmoranado, a gente com fome e procurando o que comer, ao mesmo tempo em que observávamos o comportamento dos viznhos em relação ao ataque.

Antes do cometa Hera se encontra com o mundo, éramos outros; tinhamos a arte que nos condicionava em humanos, tinhamos trabalhos que garantiam um vício e uma ilusão de que tudo era sempre assim; e eu não gostava disso, sabia da hipocrisia social, hoje gosto e queria ser hipócrita neste instante.

As profissões que mais gostava de nada servia, os livros começaram a ser devorados paulatinamente, devorados literalmente. Eu já esperava pelo momento em que água seria substituída pelo sangue, a escassez estava crescente. Retrocedemos tanto que os homens maiss fortes voltaram a ser o centro das atenções, batiam nos magros sem respeito por dinheiro ou conhecimento. O mundo humano era o mesmo mundo agora mais animal.

No terceiro dia, sentimos falta de um membro da família ao acordar. De longe alguém espiava pela janela da casa vizinha, um imenso ódio nos fez ir de encontro aquele olhar de medo. Na sala estava o corpo ensanguentado e mordido, um buraco no peito e um pedaço de uma estrtura que parecia o coração (doravante irreconhecível). Eu precisava de amor, disse com a voz em estado de choque térmico. Percebemos que naquela casa não havia mais ninguém, somente o dono do olhar de medo; não restou compaixão, o matamos. Também, nós precisávamos do amor daquele morto morto pelo homem que matávamos. Então, depois de cometer o primeiro crime sentimos o ódio bem próximo do amor, feito uma força bem maior que nos move a qualquer coisa e a quaisquer circuntâncias.

E fomos nos alimentando dos camicases até que não sobrou mais nenhum. E aí fomos nos matando... Até aquí, esse momento que digo que me matei. E se um dia voltar a existir vida neste planeta, digo que desconhecemos muito de nós mesmos em detrimento da exteriorização das pequenas coisas e grandes coisas. Eu não sei como cheguei a ser o último sobrevivente da minha cidade, sei que algo me ajudou. Eu li tanto que vivenciei todos os meus personagens e os matei a cada pedra arremessada, enfim cheguei em mim e só tendo a mim nada me resta.

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