terça-feira, fevereiro 2

Isso de Amar

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É mesmo mágico. Chamas fortes, labaredas! Eu reconhecia o erro de ser mulher e de ter enfiado a faca no peito dele, uma faca do encantamento. Estávamos bobos, infantis no jardim da praça, triste praça.

A vida é nada perto da eternidade que nos resta. Assim, lendo Pais e Filhos, eu encontrei na praça um pobre rapaz. Queria ser niilista, queria não acreditar em nada; a vida é uma morte em cada segundo, Bazaróv, a vida é um risco e você estava tão sujeito ao espírito, disse sem rodeios. Olhei-o de soslaio e perguntei o motivo de tamanha decepção. Amor. Amor?. Que mais senão isso que deixa-nos fracos e deprimentes. "Deitado aquí à sombra deste monte de feno... O lugar insignificante que ocupo é tão minúsculo em comparação com o resto do espaço em que não estou e onde ninguém se importa comigo! A parcela de tempo que hei de viver é tão rídicula em face da eternidade, onde nunca estive nem estarei... Neste átomo, neste ponto matemático, o sangue circula, o cérebro trabalha e quer alguma coisa... Que estupidez! Que inutilidade!".

Olhava angustiado procurando em mim um pouco de Arkádi, eu não era Arkádi. Diante disso, pensei, o que faço a não ser encostar aquela cabeça estorvada em meu ombro. Carreguei aquela cabeça por mais de quatro meses de leitura desinteressada, nos últimos dias ele suspirava em desespero. Deixei-o aquí em meus ombros, Ivan Turguêniev um dia há de agradecer-me.

Pobre rapaz, o mundo não tem rédeas. Nada se controla, o controlado é dissimulado e fingido. Ainda mais, quem quer controlar isso que restringem às letras A, M, O, R? Só Deus pode dizer o que nos reserva, Bazaróv. Só Deus.

[Intertextuaidade com a obra PAIS E FILHOS - IVAN TURGUÊNIEV]

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