terça-feira, fevereiro 23

Senhorinhas (Parte I)

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O sol é tão próximo de Juazeiro da Bahia que se não fosse as delimitações astronômicas poderia muito bem confundirmos a Terra com Mercúrio. E cá estamos nos planetas e é justamente sobre a personificação deles que tratarei de contar, um desventuroso caso entre uma família marcada pelos passados não tão distantes e suas reformulações constantes sobre as graças e desgraças da vida.

Na Rua das Cabras, nome esse devido ao passado faustoso de vendas e trocas das já mencionadas, situa-se uma casa de três comodos e quatro pessoas; com um pouco de raciocinio lógico é fácil deduzir que nunca haverá um dia no qual a individualidade reine por alí. E essa característica marcou por completo as atitudes psicológicas das mulheres, todas mulheres, as quatro. A primeira é a matriarca da família com seus cinquenta e dois anos, cheia de cortes na cara pelo trabalho competido a ela e consequentemente o sustento da casa e das crias: aluguel, alimentação, água, luz, escola, material, tudo o mais que seja básico em moradias. Viviam na esperança de um futuro rico, procurava nos olhares de moços um rescaldo de paixões mal resolvidas e um consolo a inquietação formigante dos seios novos e o peito velho da cinquentona. Não se pode negar que a característica da casa e todo fervor de mulheres não amadas por um homem resultou na intimidade de todas, compartilhavam os mais contrariados desejos. A segunda e todas as mencionadas posteriormente são filhas, como dizia, a segunda é de uma beleza particular e exótica se comparada fisionomicamente mediante aos antepassados da família; por isso foi tão contestada na maternidade ao ser recebida pela primeira e última vez nos braços do pai. Logo explicarei essa expressão tão usada e não obstante definitiva: primeira e última vez. Seguido do nasciemnto da menina de beleza exótica acompanhou-se suspeita de mais variados tipos, desde adultério até adoção por parte da mãe com possibilidade de esterilidade da esposa. A terceira é uma desmiolada, compulsiva e inocente mocinha; dona de uma história comovente contradizendo seus traços pessoais. A quarta é o espelho de sua mãe em miniatura, repete tudo e ensaia na frente do espelho, diz querer até ser separada dos homens e pretende o mesmo destino, é lógico que a mãe bate nas madeiras toda vez que escuta as asneiras da fã-filha; isso não impede dela ter seu ego mais bem condicionado e a deixa feliz por ser um exemplo.

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