segunda-feira, dezembro 20

Ecce Homo

3
Nesses dias,
Nesses dias em que inventei uns quatro amores,
tive de sofrer com cada adeus.

E com adeus chorado,
com adeus desapegado,
fiquei despedaçado.

Só Dioniso sabe a dor que é enfrentar um titã.
Amores criados dentro de mim,
que portanto devem ser destruídos dentro de mim.

Eu não sou suficiente.
Mas como disse o filósofo:
"Aquilo que não me destrói, fortalece-me".

Eis que sou um homem digno da destruição.
Um homem feito de pedras, escombros, destroços.
Um homem multifacetado.

Um homem borboleta.
Um homem beija-flor.
O mais raro dos homens.

quinta-feira, dezembro 16

Besteira

1
Telhado,
calhas,
água.

Pedras,
cacos,
vidros.

Estrada,
bagagem,
ventania.

Areia,
terra,
temporal.

Viagem,
despedida,
adeus.

domingo, novembro 7

Densidade

0
Isto não saber de nada.
De nada, por nada.
Se soube,
estava errado.
A morte mesmo não sabe de nada,
não sabe sequer a hora de chegar.
Ela só vem.

Não sei se vale a pena perguntar,
encher de interrogações as páginas de um livro.
Não sei se vale a pena calar
e escrever sobre o silêncio
dizendo o que ele é.
Ele só vem.

O niilismo tem me atormentado,
minha visão tem ficado escassa,
as coisas tem ganhado mais intensidade
e o céu,
o céu que amo e sempre amei,
o céu tem ameaçado me esmagar
a começar pela cabeça.

Em tudo,
se sei
é que não sei.
A realidade me apavora.
Eu agiganto-me,
e o casulo é cada vez pequeno.
A realidade é de diamante
tal qual o casulo.

Mas ainda assim,
ainda contudo,
ainda não obstante,
ainda apesar de,
ainda assim,
eu vivo,
pressuposto de todo o nada.

Obrigado por existir
por nada.

quarta-feira, novembro 3

Paciência, Música do Lenine

1
Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não para

Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora vou na valsa
A vida é tão rara

Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
O mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência

Será que é o tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara (Tão rara)


http://www.vagalume.com.br/lenine/paciencia.html#ixzz14EU7rgh5

sábado, outubro 30

Uma Janela Virtual

1
(rs...Sem muita edição...rs)


A dor torna-nos mais maduros.O sofrimento pode até ser consequência de uma derrota, mas a gente cresce e a gente tenta. a gente tá sempre tentando pow. quem garante que um carro não vai aparecer do nada e esmagar o nosso corpo no asfalto antes mesmo que cheguemos ao teatro? quem garante que amanhã a gente acorda vivo? tudo tentativa, tudo sujeito a vitória e derrota.

e do limão a gente chupa o azedo, mas se o "e se" do limão fosse feito uma limonada uma coisa é certa: Você está "condenada a liberdade", "O homem está condenado a liberdade" (Jean-Paul Sartre). Vc tem a escolha em suas mãos, sua vida é sua. vc vai continuar existindo quer queira quer não. Pq a "existência precede a essência", a essência a gente busca. lembra do papo de querermos atribuir um sentido a vida? pois é. a gente existe, depois a gente cria, elabora, pensa. vc tem a escolha em suas mãos.

já que falou em gosto, sabores ceh tá numa padaria com vontade de comer bolo
tem um bolo que vc come sempre e gosta, bolo de teatro.
tem outro que vc quer muito, mas só tem um pedaço
bolo da dança
vc chegou, vc tá ali, vc, o cara q trabalha na padaria e o pedaço de bolo junto de vários outros
e de repente
vc pensa:
ah, acho que vou abrir mão desse pedaço de bolo para alguém que chegar
e chega alguém
e vc ainda não fez o seu pedido
e a pessoa está tirando dinheiro da bossa (sem pensar muito ela vai pedir qualquer pedaço, e vc pode perder o seu)
então a padaria é a vida
e o cara que trabalha na padaria é temporário
ele sempre muda
são as pessoas
as oportunidas
de perder, vencer
ou/e participar
sentir
correr o risco
e o que vc escolhe?
o q vc escolhe é justamente um reflexo do q vc escolheu em ser
ahhh bolsa*
e há fome, desejo, gula, vontade de satisfação
há fome, desejo, gula
uma intensidade pertinente de ser dita
é, eu tinha dito bossa
(preciosismo maldito, eu sei)
talvez amanhã os padeiros façam o mesmo bolo da dança
e tbm tenha mais do teatro
mas o cara da padaria faz a diferença nesse instante
?
ele te parece vender o bolo bem?
num sei
sou um narrador personagem
sou uma mosca
então esse responsável pelo funcionamento do exato dia da última fatia do bolo (pessoa/oportunidade)
afeta na sua escolha
pois é, pois é
amanhã haverá outro bolo na prateleira
e mais pessoas circularam pela rua da padaria
e assim segue a vida
cedendoo lugares para outras visões, outras idéias, outros princípios.

Crisálida

0
À incondicional amiga Tamires

A estrada perturba,
a saudade perturba,
o relógio perturba,
a ausência perturba.

Ah!
Quero Você aqui,
quero Você aqui!
Só com Você é possível.
Só com Você, eu consigo.

A saudade é forte,
o relógio pode me acabar
e a ausência é todo esse poema que tenta imitar Tua presença.
Eu estou na estrada sem segurar nas Tuas mãos.

Ah!
Quero Você aqui,
quero Você aqui!
Só com Você é possível.
Só com Você, eu consigo.

E canto, por isso cato, assim, à medida que canto em todos os canteiros de toda a casa
enquanto eu não puder ser e estar Contigo.

quarta-feira, outubro 27

Sem Título

2
Nessa noite, um anjo me visitou dentro dos meus sonhos e disse-me:

- Calma, há ainda muita coisa.

segunda-feira, outubro 25

Estamos buscando abrigo

0
Fábio está totalmente destruído, não é por menos que há pouco tinha levado cinco socos, três chutes na cara, um murro na boca do estômago. Coitado! Não é um homem de sorte e não tem o hábito de fazer musculação, a mulher dele é quem defende a família.

Helena é bela. Existe alguma Helena que não seja bela? Helena é forte, habilidosa, também tinha de ser: agente de polícia, ex-bandida, ex-traficante, ex-prostituta. Agora ela está se arrumando para resgatar o marido, coitado! Arruma-se de uma maneira feminina, apesar de defender a família, ela ainda passa protetor solar, lápis, deixa um cacho de cabelo desprender-se do coque.

Lá está ele, sentado, triste e suporta como um herói mítico aquele sofrimento; tem alma de artista e sabe que sofrer é preciso. E aí vem ela, com seu cabelo de labaredas, com o corpo esguio; ama o seu marido, porque sabe que poucos homens admitem a fraqueza e renunciam o capricho da juba pela redenção do amor. À noite, em pleno fogo cruzado, deitam seus corpos, deitam seus corpos, deitam seus corpos.

Eu vejo o Fábio e a Helena no clipe Crossfire, música do Brandon Flowers. É revigorante, porque eu também me vejo.

Queda Livre

2
Dentro de mim
cabe todas as coisas,
cabe todos os jeitos,
cabe tudo!

Meu limite é o ilimitado...
Me prendo às regras para não ser preso,
mas já fiz coisas que me fariam um presidiário.
Dentro de mim há um espaço vasto.

Sou pequeno,
menos de dois metros!
Sou pequeno,
menor que um leão sustentado a duas patas!

Sou díficil também,
sou complicado.
Mas sou simples,
basta aprender.

Sou um labirinto,
e antes de sair dele vivo ou morto
alguém tem de conhecer
o meu amor e outros demônios.

Eu sou fogo,
Eu sou calor,
Eu sou cinzas,
Eu sou barro!

Destruição e Construção,
Construção e Destruição,
eu estou sempre prestes a acabar sem ponto, sem nada

domingo, outubro 24

Diálogo Interno

0
- Alô?

- Olha é o seguinte:
Há muito tempo eu tenho tentado conversar com você, às vezes, eu grito, às vezes, eu te imploro, às vezes, eu suplico, e às vezes eu choro, porque você não tenta me escutar. Calado! Sabe ontem? Certo, ontem você percebeu que o seu amigo é bem mais literário que você, literário por saber contar história oralmente. Ele conta com tanta emoção os causos dele, ele é engraçado, ele é esperto, ele é burro. Não, você sabe que ele não é burro, apesar dele se vender assim: um burro. Pelo menos, guarde isso, ele surpreende. Você, na maioria das vezes, decepciona. Você já notou isso, não é mesmo? Espero que sim,

- Cala a boca! Pare com essas censuras idiotas! Você

- Eu disse que era para você ficar calado!!! Seu merda! Poxa, Diêgo! Você tem tanta coisa bacana pra mostrar, tanta poesia nesse olhar, tanta coisa! Fica apegado nessas bobagens

- Que bobagem?!

- Cala a boca! Ah! Cansei.

(...)

- Desculpa, tá? Eu prometo carregar um palhaço dentro de mim, ainda que esse palhaço seja trágico. Eu prometo ser puro. Eu prometo ser sensível. Eu prometo te escutar. Eu prometo sentir a vida com delicadeza. Eu prometo improvisar. Eu prometo tentar. Eu prometo por todas as cores do mundo, por todos os cheiros, por todas as texturas, todas as sensações. Eu prometo querer, querer, querer.

- Eu quero que você seja assim.

sábado, outubro 23

2005

1
Encontre colegas dos tempos colegiais: sorria, sinta, grave cada rosto.
Reencontre amigos que foram colegas dos tempos colegiais: sorria, sinta.
Ligue,
procure-os no Orkut, no twitter.
Depois de tantos dias você deve ter se perdido,
pode ajudar que alguém se encontre.
Depois de tantas horas você pode ter passado fome,
pode pagar algo para alguém.
Eles andam por aí
com vontade.
Você anda por aí
com vontade.
Nós andamos juntos em sincronia,
respiramos o mesmo ar que ronda o São Francisco.
Comprometa-se.
Desvende o escondido.
Perceba os sorrisos.
Escute as gargalhadas.
Reconheça a batucada,
o batuque do coração que pulsa,
que abre o caminho das manhãs, das tardes ou das noites,
das compras dos cadernos,
das canetas,
dos lápis,
dos corretivos.
O tempo ainda não passou,
o tempo ainda passa
e perpassa por nós o mesmo tempo
que carrega a alegoria da nostalgia.
A nostalgia que não é saudade,
que nunca foi e nunca será.
A nostalgia que mata justamente por não cessar,
só crescer.
Tiro uma conclusão: há sempre algo depois de um ponto,
ainda que seja um ponto final.

sexta-feira, outubro 22

Pergunte ao Corvo

2
Quando quiser saber sobre mim.
Se precisar de minha ajuda.

Querer um ombro amigo.
Querer um tapa revoltado.
Querer um soco resignado.

Quando quiser me procurar.
Se precisar ainda me amar.

Querer um largo sorriso meu.
Querer compartilhar seu fardo com o meu.
Querer qualquer coisa.

Se quiser me ligar,
se quiser voltar a minha casa,
se quiser assistir a um filme,
se quiser observar como sou míope,
se quiser telefonar,

O corvo responderá:
- Nunca mais.

O corvo explicará:
- Nunca mais.

E o corvo não voltará,
jamais.

sexta-feira, outubro 15

21 Mensagens ou Uma Experiência de Twitter

2
01- Só quero dizer que preciso de um martelo.
02- Eu já sei do que preciso para criar.
03- Fiz uma máscara de gesso usando ataduras engessadas no meu rosto, tentador!
04- Gosto do intangível, mas suporto o desejar durante pouco tempo.
05- Ando a flor da pele.
06- A minha liberdade descoberta pode me destruir. Estou preparado.
07- Chegarei onde não sei se quero chegar, se a morte permitir, mas atrasado, como a vida proporciona.
08- Na Semana Universitária da UPE, tive a oportunidade de conhecer pessoas interessantes. E artistas brilhantes chegaram para ficar no meu inconsciente.
09- Usaram a fita métrica para saber meu IMC (19,30). Tenho 1,70m e meu IMC é de 19,30. Normal. (?)
10- Javier Bardem está me perseguindo pelas sessões de filme que vejo ao acaso. It's not so bad, it's not so bad.
11- Minha avó teve sua primeira aula de teatro para terceira idade.
12- Não gosto de Twitter.
13- Não gosto de Twitter.
14- Não gosto de Twitter.
15- Não gosto de Twitter.
16- Não gosto de Twitter.
17- Não gosto de Twitter.
18- Não gosto de Twitter.
19- Não gosto de Twitter.
20- Não gosto de Twitter.
21- Definitivamente, não gosto do Twitter.

terça-feira, outubro 12

E para o dia das crianças

1
O gato está deitado numa cama de pregos,
enquanto a criança corre endoidecida pelo dia que disseram ser dela.

O gato pensa num pulo, em como estourar o balão da criança,
e a criança esqueceu que tinha um gato peludo esperando-a para brincar.

O gato pulou alto, muito alto do lugar onde estava.
Acabou voltando para a origem do seu pulo, onde os pregos esperavam pelo balão.

Foi um dia feliz que se estendeu até as 01h12min do dia posterior, quando soube do balão ter esvaziado e do seu amigo ter sumido.

segunda-feira, outubro 11

Desculpa da Maçã Mordida

1
...
(Amarelo)


Agora
podemos
conversar.


(Vermelho)





Tire mais um pedaço dessa maçã mordida, tire. Agora, me diga o motivo pelo qual você tirou, o motivo pelo lado que escolheu, o motivo do tamanho que mordeu.




Me perdoe a pressa, mas é o tempo. Esse tempo que temos nesse Sinal Fechado, com essa música de Chico Buarque ao fundo da nossa conversa, na qual o roncar do motor cessa sem movimento de deslocamento.




E é por isso que te pergunto, me responde, enquanto o sinal tá fechado. Eu preciso de um retorno sobre tudo que você fez durante todo esse tempo em que esteve com a minha maçã.





(Verde)

Ai, ai, "quanto tempo, pois é, quanto tempo"...





... Vou repetir a música.





... Um outro sinal aberto, que pena!





...Desculpa se ando rápido, só ando a 100.





...Se você quiser comentar algo...






(Distante dali, uma mosca)

Eu pergunto o que já foi perguntado alguma vez, sentido em algum instante:

Por qual motivo só conseguimos amar verdadeiramente as coisas que nos foram privadas?

"Tudo é precioso para aquele que foi, por muito tempo, privado de tudo".
Friedrich Nietzsche

(Amarelo)
...
...
...

sexta-feira, outubro 8

Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

2
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

(Poema em Linha Reta, Fernando Pessoa)

quarta-feira, outubro 6

Tá uma bagunça!

2
Minha vida.

Preciso organizar as coisas, colocar cada sapato no devido lugar, cada colar no devido pescoço, cada esmalte na devida unha, cada sentimento nas devidas pessoas. De longe, bem de longe, toda essa bagunça tenha alguma lógica e transpareça algo sobre o caminho que tenho percorrido.

Onde eu deixei o controle (de brinquedo, mas ajudava)?

terça-feira, outubro 5

O Elevador de Cida Farias

2
Bato nas teclas com a força de querer te bater. Você me entende? Eu queria te espancar. Tirar sangue da sua boca, cuspir na tua cara, pisar no teu pau, morder os teus ovos, isso por causa de tudo que você está fazendo comigo. Na verdade, é também uma vigança das Adrianas, das Amelies, das Capitus, das Pinks, das Pittys, das Suzanas, de nós todas.

Queria quebrar a sua cara. Deixar você engessado, paraplégico. Seria capaz de acabar com sua visão para nunca mais olhar ninguém do jeito que você olha quando está comigo. Sem vergonha nenhuma, você me diz que as outras são bonitas e merecem serem vistas, seu cachorro!

Sou capaz de cortar teu saco com uma mordida. Estou puta de raiva de você! Puta! Venha aqui em casa, meu bem. Venha. Fiz torta de abacaxi, sua preferida. Venha comer-nos, venha! Estou com tanto amor para dá. Estou tão vazia, tão vazia que preciso de um complemento que me preencha na hora certa. Na geladeira tem um espaço cilíndrico, um pote em formato cilíndrico, nele está um pedaço da torta de abacaxi, depois que você comer não terá nada até que você decida ir embora. Porque um pedaço de você ficará comigo, você tem medo? Não tenha, por favor. Sei que os homens gostam de mulheres perigosas, sei que por mais que tivesse medo, chegaria aqui cheio de tesão e com sangue todo abaixo da cintura.

Você está duro, eu sei. Gosto de você duro, pois eu te passo grana e te passo a língua. Não preciso de dinheiro, não preciso de você o tempo todo. Você sabe do que preciso e é por isso que gosta de mim, não é mesmo, seu animal? Sou velha e só sirvo para te bancar e te ensinar os segredos da cama e os fetiches das menininhas, não é mesmo?

Devo estar ficando complexada ao olhar da sacada de minha casa e conversar com uma queda de mais de quarenta metros. Queria te jogar daqui de cima. Mas você merece mais sofrimento, mais dor, mais carícias dolorosas. Daqui a pouco, te ligo. Vou falar um poema fácil, contar uma história e você estará aqui, bobinho. Sabe o que estou escutando? Pitty e Pink, ao mesmo tempo. É para aumentar meu ódio por você.

A gente assistirá ao clipe Please Don't Leave Me, tenho certeza que você ficará com um carão!!!Hahaha. Em seguida, leremos um trecho de O Pau, da Fernanda Young. Depois veremos um poema de Florbela Espanca. Você comerá a torta de abacaxi feita do leite que lavei todo o meu corpo, uma simpatia que me ensinaram! Ai, os homens são muito burros ao comer qualquer coisa que nós oferecemos. Credo! Tem tanto tipo de mulheres que era para existir um sindicato de cada. Por fim, o fim é surpresa para você.

Deixarei arranhões no teu teu peito, mastigarei um pedaço do teu mamilo. Você não morrerá, não precisa nem fazer alardeios. Você será um peregrino, ficará vivo, procurará a paz espiritual. Eu só posso ser uma santa para te oferecer isso. Uma alma em busca de paz espiritual, um galinha sem... segredo! Deixa as contas que no fim das contas o que interessa para nós... é,é,é...
o nosso acerto de contas. TAN NAM NAM NAM NAM nam nam nam nam.

- Oi, estava ardendo de saudade, rapaz! Me diz, por favor: A gente pode deixar um encontro marcado? Você não tem noção como preciso acariciar alguém, você!

segunda-feira, outubro 4

Espelhado

1
Hoje,
o ato se repete no espelho quebrado,
rachado,
com a imagem de seu coração esquartejado,
sangrado e virulento.

(Seus gestos pesados cansam sua vista,
cansam os gestos que você faz e te envelhece
no espelho onde você está desnudo, despido)

Hoje,
as coisas se repetem com um pouco mais de vida,
e as coisas se enaltecem com o ritmo da morte,
ontem se passa por hoje,
você é prisioneiro do que você foi.

(Meu corpo responde perguntando onde você está,
por que lugar caminha)

Hoje,
o espelho está coberto,
os movimentos estão ali,
mais vivos do que eu.

Sou reflexo de mim,
isso não é tão simples de se ler.

sábado, outubro 2

Carta de Despedida

3
Particularmente, a gente sempre esteve numa estação à espera de um trem, um ônibus ou um avião que pudesse separar nós dois.

Nós dois já rimos, já brigamos, já trocamos carícias, já nos tocamos, já nos amamos, parece que já não falta nada a não ser o nada trocado pelos nossos olhares vazios, mas carregados de admiração e vontade, uma vontade sem complemento. Pareço ser díficl para você, porque quando você quer, eu não quero, e quando eu quero, você opta por não querer, pois, sabendo que se querer eu não mais desejarei.

Já falei sobre as coisas que ocorreram, uma visão panorâmica e um esclarecimento da minha decisão: Eu serei fruto da tua pedagogia. Terei o sumo melhor do que você oferece e fertiliza. Cansei de tentar procurar teu velho jeito, nesse trejeito maluco que, às vezes, me causa pena. É complicado esquecer tudo que aconteceu, até te disse isso. Até conversamos naquele dia naquele espaço, eu encostado na parede e você me encarando e interrogando o que eu queria a partir de então. Até disse que nossa relação estaria oscilando entre o amor e a amizade. Você preferia o amor, seu olhar era claro, suas mãos eram claras, sua inquietação revelava tudo.

Sua decisão: Me tratar como um qualquer. Como um desses meninos vadios que te admiram e só. Você sabe que eu não sou um menino, sabe mais ainda, que não sou um qualquer. Sabe que sou desses tipos de cuidado excessivo, pura cautela. Mesma sabendo de tantas coisas, sua atitude me parece inconsistente, imprecisa e infantil. Engraçado, pois você parece está tão nobre e intelectual para se revestir com uma interpretação infantil.

É. Agora, você não mais terá a minha vontade de reviver o que vivemos desde 2008. Porque eu fiquei grandinho, você cresceu e nós precisamos deixar as coisas acontecerem. Hoje, imaginei nós dois sentados, depois de vinte anos, com um doutorado na bagagem e muita nostalgia no olhar. É. Agora, é despedida. Você não mais terá o garoto encantado que sempre esteve disposto a te acolher nos braços, te acolher como um amigo que você talvez nunca tenha.

Sobretudo, digo que te amo. Digo que te amo para dizer que vou te esperar em outra estação. Digo que te amo, porque o fim de um bonita história precisa de uma declaração dessas.

Nós crescemos e esquecemos de nós enquanto atravessávamos uma ponte. Nós transformamos a essência em forma. Nós nos perdemos. Você desapareceu. Eu te perdi.

Beijo.

Diêgo

quarta-feira, setembro 22

Primavera

1
[Informe: esclarecerei mais o texto, em breve]

E se eu mudar de idéia, lerei essa postagem e terei a certeza do meu querer.


Na faculdade, hoje, minha colega disse:
- Meu Deus! Eu acho que estou surda. Não consigo escutar o que as pessoas me falam perto de mim.

Ela tinha perguntado o dia de hoje, meu colega a uns dois metros disse que era quarta-feira, de nada adiantou. Perguntou mais alto:
-Que dia é hoje?
Eu respondi:
-Ele tá dizendo.
Daí a conclusão, uma conclusão espontânea, mas de uma poeticidade!!!

"Não consigo escutar o que as pessoas me falam perto de mim".

Queria escrever um monte de coisa por aqui: de como me sinto, me vejo, me observo, me trago, me levo, me deito. Falar sobre a possibilidade simples, tão simples de ser feliz. Considerar os traços de cada um e enxergar a vida e as pessoas com o olhar de Deus. Olhar de Deus, isso não seria presunção, seria Revelação. Eu me sinto como que diante de uma Nebulosa, mesmo pequeno me sinto grande e sorridente.

Apenas um motivo me deixa submerso: o rompimento de uma amizade sinuosa, turva, intensa. E a intensidade toda minha, hoje, se fez destruidora e cruel. Daí carrego uma outra grande certeza: Sou um homem de poucos amigos e amigas, e acabo de perder (para o meu bem, talvez) a maior amizade que tive até hoje. Uma flor do meu jardim teve de ser retirada, eu quase choro, mas sou forte tanto quanto a raiz dessa flor que pouco sentiu ao ser arrancada. Eu lamento, eu tentei, eu busquei, eu até sonhei.

Estranho é ser primavera e eu ficar debruçado sobre as flores que pediram silenciosamente para partirem para outros jardins. A vida é deveras feita de escolhas, não há fato tão certo quanto esse. "Tá, mas você não é um homem morto?".
Heráclito indagou mais ou menos sobre: "Quem sabe a vida não é morte e a morte, vida?".

Submerso, mas de cabeça erguida. Revisitando o que já tinha sido visitado, eu não quis ser redudante, eu quis ser um pouco mais claro, e se errei, reconheço: peço perdão. Eu vou tentar viver um pouco de RE: reconhecer, revisitar, repensar, reter, reaproximar, reinventar, redescobrir. Só preciso de muito amor para me impulsionar, ditribuir e absorver, eu preciso também de paixão. Continuarei a prezar pela racionalidade, mas ciente de que ela pouca vale para um mundo extremamente sensível.

Flores, perfume, chuva, sol e muitas palavras de carinho com muitas respostas de afetos em atitudes. Será que donde estou a queda pode ser tão grande? Vale o risco! Eu me permito! Afinal, estou morto. E veja só, mortos partem no caixão carregado de...

Viva a Primavera!

(Texto escrito entre 22 e 23 de Setembro, quando o autor vislumbrou uma possibilidade definitiva em sua vida, e gostou, amou, quer)

segunda-feira, setembro 20

Nos Bastidores

0
Eu tenho muitos rascunhos guardados, todos eles incompletos e inconsistentes. Recentemente as coisas têm perdido algum valor, daí eu faço muitas coisas pela metade, tem algo de errado comigo e eu preciso acabar com isso, antes que isso acabe comigo.










"Queria que o palco fosse uma corda esticada onde nenhum incompetente ousasse caminhar".
Goethe




















Será que trancaram a porta para eu percorrer outros locais do meu ser? Ou será que estou me afastando do que queria?

domingo, setembro 19

Passagem

1
(pode parecer um texto de Caio Fernando Abreu, eu só conheço um texto desse magnífico escritor, e boa parte de sua biografia sei bem)

Todo mundo tem um jardim que começa na mente e termina no coração, embora muitas flores criem raízes ao inverso ao começarem no coração e se alastrarem pela mente. Alguns podem até dizer que não, "eu nunca tive jardim nenhum, isso é apenas frescura e mais uma metáfora totalmente fora do que meta", quem diz está certo, quem sou para dizer que existe um jardim numa mente de solo infértil. "Minha mente é muito fértil, meu querido". Não, não para a semente que quero lançar.

Meu jardim sempre foi mais grama do que flores. Tenho umas flores lindas, poéticas, femininas e libertas. Tenho um pequeno duende que amo muito e veste saia, corre, pula, canta, grita, manda, dá risada, chora. Uma borboleta, apenas uma borboleta que parece se multiplicar e pousar em todos os cantos, com a vontade de todos os aromas e o desejo de conhecer cada lugarzinho ao sol e à sombra. Meus jardineiros: meus personagens, minhas atitudes e minhas palavras.

De repente, não tão de repente assim, nasceu uma flor estranha que me intrigava e ainda não tinha cheiro de nada. Ela tinha as pétalas amarelas, o pedúnculo verde, o receptáculo azul e o gineceu vermelho vivo que parecia descongelar um sangue. Não me lembro como era o jardim antes dessa flor irromper do solo com uma fúria! Colocou-se no meio com uma arrogância e maestria, e disputava olhares; tive (e talvez até hoje tenho) medo de ser uma flor carnívora. Um dia desses a única borboleta pouso sobre as pétalas amarelas, de longe fiquei tenso e apreensivo, muito medo de um dos dois não se completarem, ao passo que aquela planta era temida, era também desejada a permanecer ali, e a borboleta era única, não só por ser única, era também realista fantástica. Espanto foi observar as pétalas e as asas se completarem e se acariciarem com uma plenitude que eu não sei como.

A borboleta tão doce e de cores tão vastas. A flor tão selvagem e de cores tão poucas. Mesmo desconfio, na mesma semana, a flor tentou arrancar os pequenos braços do Duende, e como se não percebesse nascia sorrateiramente uma outra flor subjugada a sua sombra, uma florzinha rosa crescia dissimulada. Mais perigosa e mais selvagem. Não tinha receio, sabia que aquela sim era carnívora e ameaçava todas as outras flores do meu jardim, inclusive a própria flor que a acolhia em sombra. De cor rosa, rosa bebê, não daria nada. Cortei todas as pétalas rosas, deixei apenas a raiz para que talvez cresça comportada e menos destruidora. Espero a todo instante um ataque da flor centralizada, autoritária e dona de si mesma. Já não ando com uma tesoura na mão, forma que andava anteriormente a conhecê-la de fato. Uma pequena linha foi colocada próxima da raiz profunda, uma linha cortante que se faz fácil e possível. Deixemos a flor possivelmente carnívora.

Uma rosa vermelha de óculos parece muito me estimar; simples, pura, casta, inteligente, afável, amável. Uma rosa de cor-de-rosa ilumina o meu jardim com um sorriso que não parece personificação, parece real, tão real que posso enxergar deslumbrado a seu cheiro e a sua beleza de composição delicada. Tem margaridas no meu jardim, tão sociáveis são que não abrem mão de conversar e sorrir para as outras plantas. Uma margarida, em especial, de beleza ardilosa.

Fertilizantes? Os melhores e mais influentes na conexão mente-coração da minha existência. Até o eu já morto propõe vida ao meu jardim vivo, pulsante e, por isso mesmo, sensível.

Tem tantas coisas no meu jardim. Tem um espaço cinza dedicado as flores que ficam embaixo da terra, "amigas da sabedoria" interna, profunda. Tem tantas coisas no meu jardim. Tem um espaço dos outros escritores; colho pedaços de plantas e coloco no meu jardim.

Em um lugar de solo puro, com licença às regras normativas, com pedrinhas ao redor, com sapinhos de gesso, existe um lugar. Um espaço bem preservado, bem cuidado, bem desenvolvido onde aí pode ficar um ser especial, que pode ser flor, pode ser demônio e podem ser deuses a depender de como se apresente e de como consiga se situar por ali. O caminho dali é tão estreito e tão vigiado, dando a definir: impenetrável. Não é, isso é apenas cuidado, zelo, dedicação e espera. Quem sabe eu reconheça nas flores que tenho, que tenha uma flor brotando por ali e eu não saiba, que desabe do céu. Um dia esse espaço foi precipitadamente preenchido por uma flor chamada Alanna. Tão precipitadamente a mesma flor se desfez e afundou no solo tão fértil que parecia areia movediça.

Existem tais flores assim na sua vida? Quais as flores que você reconhece? Quantas borboletas você tem? Qual a sua água? Qual o seu sol? Qual a intensidade da sua energia luminosa? Qual o resultado da sua energia química? Pela noite, o seu jardim tem luz? É você que rega? Seus fertilizantes são mesmo fertilizantes? Você usa placa para não pisarem no jardim?

Responda, por favor. Eu preciso de sua resposta! Eu imploro! Eu suplico! Eu ainda não sei cuidar do meu jardim, e ele ultimamente está tão bonito.

sábado, setembro 18

Uma música: Starlight, Muse

1
Far away
The ship is taking me far away
Far away from the memories
Of the people who care if I live or die

Starlight
I will be chasing a starlight
Until the end of my life
I dont know if it's worth it anymore

Hold you in my arms
I just wanted to hold
You in my arms

My life
You electrify my life
Lets conspire to ignite
All the souls that would die just to feel alive

But I'll never let you go
If you promise not to fade away
never fade away

Our hopes and expectations
Black holes and revelations
Our hopes and expectations
Black holes and revelations

Hold you in my arms
I just wanted to hold
You in my arms

Far away
The ship is taking me far away
Far away from the memories
Of the people who care if I live or die

And I'll never let you go
If you promise not to fade away
never fade away

Our hopes and expectations
Black holes and revelations
Our hopes and expectations
Black holes and revelations

Hold you in my arms
I just wanted to hold
You in my arms
I just wanted to hold

http://www.vagalume.com.br/muse/starlight-traducao.html#ixzz0ztcOkigr
http://www.youtube.com/watch?v=Cix6xLpJS7w&feature=fvst
TRADUÇÃO NOS COMENTÁRIOS

(Te dedico, Marcelo Pereira!)
"You 'IS' my dog!"
"Miserável".
"Ahh hahahahaha, Diegão!"

Ela se repete neles

0
Palavras repetidas, atitudes repetidas, conceitos repetidos, escolhas repetidas, pensamentos repetidos condicionam uma vida. Mas também dá sentido, e limites, e orientação, e tema, e biografia.

Atitudes repetidas matam vidas, amores e amizades, porém, trás confiança.

Palavras repetidas nunca ganha em seu conjunto o Nobel de Literatura, mas é uma obra e tem seu valor, sem pedras no meio do caminho.

Escolhas repetidas nunca acrescentam em muita coisa, mas especializa e se tem plenitude.

Conceitos repetidos são quebrados, mas são desenvolvidos se questionados e debatidos.

Pensamentos repetidos são insuficientes, mas revela o que tendemos a pensar, ser e sentir; necessário a muita coisa.

A vida se repete e pouco a gente aprende.

sexta-feira, setembro 17

Com Clarice, a beber vinho

1
"(...)só se comparava à estrela cadente que atravessa quase imaginariamente o céu negro e deixa como rastro o vívido espanto de um Universo Vivo".

Estava com Clarice, tomando vinho. Estava com ela. Tento abrir um caminho, contornar o cabo que ainda não é da boa esperança, mas também não é o das Tormentas, estamos em transição. Como um certo filósofo disse sobre si, para se entender (compreender, sentir, apreender) Clarice Lispector é preciso ter pensamentos ruminantes.

E pensar que tive receio a ler e me tornar piegas, quando consigo enxergar a profunda tristeza trágica de seus personagens e o espaço necessário que me cabe do lado de fora.

O gosto amargo do vinho só me faz ter a certeza da profundidade dramática, algo que se perde na vida, quer dizer, até se ganha, mas no final, no caminho do outro extremo.

"Ainda era cedo para acender as lâmpadas, o que pelo menos precipitaria uma noite".

Livro: Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres (Clarice Lispector), cedido pela doce Williana.

Desinteresse, Ilocução e Embalagem

0
Cantei aquela música velha do Richard Wagner.
E quis pular,
quis gritar,
quis sorrir,
quis sentir,
quis amar,
quis morrer de alegria.
Morrer de alegria é estranho.

Nietzsche está embriagado.
Deus está morto.
E eu estou em tempo de Richard Wagner.
Quero gritar,
quero sorrir,
quero sentir,
quero amar,
quero viver dentro de mim.

Nietzsche é do tempo de Richard Wagner.
Eu estou morto.
E Deus está embriagado.

Deus é Nietz,
Eu sou morto e você bebe algo.
Não quero mais nada,
talvez internalizar e Dó.

Ré, Mi, Fá, Sol, Lá, Si.

terça-feira, setembro 14

Sobre a vida?

2
A vida deve ser vivida como uma.
Ou se deve morrer várias vezes por outras,
enxergar outras, sentir outras na mesma.

Se deve acreditar no que nos fortaleça.
Deve-se aceitar fatos:
iremos morrer,
não sabemos bem donde viemos,
não sabemos para onde vamos.

Tais extremos pouco interessa(pelo menos me interessa!),
pois seria dispendioso demais contemplar o infinito por mais de vinte anos,
já nos basta a adolescência.
Preenchemos o meio
com o chocolate, com o morango, com o napolitano, com cuspe, com iogurte, com sêmen, com lama, com cianeto, com cerveja congelada ou com o que for, algum desses recheios servem de metáfora para o sentido de nossas vidas.
Mas devemos ter um sentido: uma bússola e muito combustível.
Ou a gente se perde no mar das grandes invenções.
Ou a gente para no meio de um congestionamento constante que parece aos poucos se movimentar.
Ou a gente é atropelado pelos sentidos dos outros.

E com os setenta, oitenta anos,
lá estaremos de novo passando pela a adolescência e procurando uma resposta de tudo que não foi respondido.
E depois, voltaremos a infância.
Nossos filhos tendem a ser, também, nossos próprios pais.

A vida é mesmo trágica, e não seria tão bela se fosse cômica.
A vida é muito provavelmente uma síntese de inversões.
A vida é feita de tentativas pessoais constantes de definições.
A vida é mesmo muito bem feita: trágica, inversa e pré-definida.

domingo, setembro 12

Curto-circuito

2
Há pouco, ainda hoje, algo impressionante foi dito por minha mãe (em verdade, tanta coisa de fantástico é dito por ela).

- Diêgo, os travestis estão desesperados por causa dos políticos de Deus. Eles estão se movimentando para impedir a vitória, dizendo que não poderão se casar e vão perder o direito. O pastor pediu que no dia da eleição, a gente pegasse uns panfletinhos... mas num é boca de urna não, é só falar, entendeu?

Rápido percurso de uma semiologia barata: Atenção para o termo que ela usou: TRAVESTIS. Minha progenitora não tem um conhecimento científico, filosófico, epistemológico, psicológico, mas é dona de uma percepção e de fé tremenda. Ela entende que "viado", "bicha", "boiola", "gay" é de torpeza. Compreende que sou lunático, e mais uma vez: livre. Livre não implica dizer Bissexual, Homossexual e/ou Heterossexual. Eu estou querendo assumir um posicionamento Assexual. Se bem que é tão bom a prática do sexo consigo mesmo, né?

Voltando ao acontecimento... Eu no Notebook tentando não exprimir sequer uma sentimento. Se fosse uns meses atrás, eu teria dado total apoio. Eu mudei, não sei porque, mudei para o que era antes de ter me convertido (tornar-se evangélico); eu transito entre o que fui e sou, assim gero um novo que será transitado no dia de amanhã.

- Mas que - sucumbi - absurdo!

- Não, né não, minha mãe - modo carinhoso que minha mãe me chama, minha mãe, mainha - é só falar com as pessoas, entendeu?

- Isso também é boca de urna, mainha. As pessoas rirão de vocês - senso comum, admito, milhares de pessoas zombam dos evangélicos, algo deprimente por parte de quem faz isso - cada um tem suas escolhas, mainha.

- A mão de Deus vai pesar. Deus está irado com isso de casamento entre homens - minha vó me chamou para fazer o molho da lasanha, motivo necessário para não machucar minha mãe - Isso não pode acontecer...

Eu, particularmente, queria dizer a minha mãe que Deus, certamente, está mais preocupado, indubitavelmente, com questões mais urgentes: Fome, escassez de água, violência, injustiça, sofrimentos amorosos, intolerância religiosa. Ser onipotente constantemente deve cansar. Um único modo de ser deve cansar. Eu acho que Deus, depois da semana de Arte Moderna, tirou férias do Brasil. Talvez, tenha ele percebido que o povo já estava em bom caminho. Não sei se minha mãe me entenderia, na verdade sei. Ela ficaria magoada, e quem está morto sou eu, não ela; então, prefiro deixá-la viva e cheia do fogo divino, afinal, apesar de se dizer "no espírito", ainda permanece ligada à carne.

Eu já fui contra muitas outras coisas, entre elas o casamento gay, pensava em um Deus revoltado, arbitrário, punitivo; passei um ano com a noção do todo poderoso, custei a entender que isso não seria Deus, seria o Diabo engenhoso que criou o humano com possibilidades de prazeres e liberdade e o impede, o censura de usar, sentir.

Seria uma puta sacanagem se ele realmente tivesse feito isso. Ninguém nunca vai entender mesmo se ele fez ou não, até que ele venha se explicar e se mostre distinto do Diabo. Eu morto até agora não vi nada, penso que depois da morte temos um tempo para acertar contas nesse plano. Só pode. E olhe que não curto o Chico (o Xavier, não, não é do X-Men, é o Chico mesmo, não o Chico Buarque, o Chico Xavier do filme).

Deus, se o senhor ler meu blog, e deveras ser altamente déspota, tenha calamidade dos humanos criados a tua imagem e semelhança. Não querendo me explicar ou argumentar para o senhor, mas preciso relembrar que somos feitos a tua imagem e semelhança. Daí mudarmos o cenário em que vivemos, optar por outras escolhas, refletir o sentimento nas iras da natureza. Ai, Deus, espero que as pessoas não tenham trocado a verdadeira figura do ser do amor em troca da figura do ser da incompreensão, do repúdio, da contenção. Se o senhor acompanha meu blog, algo que acho muito complicado, pois tantos livros melhores e blogs decentes há por aí, veja com carinho que tento não te colocar no pedestal. Não sou panteísta, mas acredito do senhor está no meio da gente a todo tempo, a todo instante.

Sei de tê-lo como leitor. Toda vez que te procuro, te acho. E toda vez que me explico, o senhor já me entendera e me indagara sobre os assuntos das postagens. Ai, Deus como te amo. E como queria que as pessoas compreendessem a tua grandeza, exterminando tal imagem de Deus do Mein Kampf.

Lembro do filme do Jim Carrey ao falar sobre tantos pedidos e tantas coisas a serem feitas. Pena que o filme só ridicularizou teu compromisso, teu trabalho. Por isso, hora ou outra não te peço nada. Quando retornar de férias, sei que o senhor não nos abandona mesmo distante, ao Brasil, me procure pessoalmente. Precisamos conversar. Preciso colocá-lo no meu Divã e entender o meu criador, só assim quem sabe entender a criatura que sou. Não se sinta tão sobrecarregado, estarei contigo quando por aqui chegar.

Preciso pesquisar o preço de uns divãs.

Dizem que o senhor é enorme. Mas sei que pode se adaptar.

Queria te fazer uma perguntinha, mas tenho medo de ser interpretado como um ato desrespeitoso, algo só possível se te visse conservador, é para a gente marcar um dia, um horário e uma estação, pergunto:

- O senhor tem MSN?

Preciso colocá-lo no meu Divã e entender o meu criador, só assim quem sabe entender a criatura que sou. Ninguém nunca vai te entender mesmo, até que venha se explicar e se mostrar distinto do Diabo.

sábado, setembro 11

Out

2
Inconsistente, vago, oco, perdido, melancólico, introspectivo, eu estou. E qualquer sorriso é feito com as forças das entranhas para não chorar.

Chorar?
Você não está morto?

Os mortos também sofrem.
Porém, sem as dores do coração.

E a eternidade?

Tento pensar nela, e resolver, mas não quero encontrar a solução. Quero conversar com quem elaborou a equação.

Confesso: Firme, forte, inabalável, eu ando.

Coisa louca. Ser louco.

Eu tropeço.

Explicado.

sexta-feira, setembro 10

O Jovem Amortecido

1
"The lights go on
The lights go off
When things don't feel right
I lie down like a tired dog
Licking his wounds in the shade(...)"
(Scenic World - Beirut)

Sentado dentro do ônibus estava ele pensando sobre si e as coisas, ora fechava os olhos e tentava se compreender, ora procurava um apoio na biografia de Clarice e teve um insight:

Eu não preciso me explicar.

Fechou os olhos e passava pela ponte em alta felicidade contida, no embalo da alta velocidade do motorista, seu cabelo balançava, suas pestanas também, seu coração parecia ter esquecido de usar adrenalina em troca de outra substância.

Sentado na cadeira do ônibus, calado e cartesiano, pensou que estava no caminho da insensibilidade e, agora, bem próximo de um coração selvagem se via diante do abismo das paixões das quais queria escapar e ignorar. Já tinha lido algo sobre o abismo, e quando chegou em casa, com vontade de divulgar, compartilhar seus anseios, prazeres e dores, procurou no Google:

"Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para dentro de você".

Na lembrança, ele (Nietzsche) não estava lá. Ele estava calado, juntando peças do quebra-cabeça para falar algo ao seu aprendiz de díscipulo. Insight:
Eu não necessito ter as mesmas leituras.

Próximo do ponto de ônibus da casa dele, pensou em descer no ponto anterior. Quem sabe assim posso encontrar algo que tanto procuro. Mas desistiu, recordou:
"Eu não posso desperdiçar o meu tempo".

Postando esse texto, simultaneamente ao procurar a frase sobre o você olhar para o abismo e o abismo olhar para você, prezou por uma das provocações citadas por ele (o outro):

"Você vive hoje uma vida que gostaria de viver por toda a eternidade?"

Decidiu lutar contra as paixões, se arriscar à extrema sensibilidade de ler Clarice, continuar tentando ser um Superman... Decidia numa intensidade louca... Insight:

Eu estou morto!

Teve tal iluminação ao dormir no instante sentido do coração parado, tinha esquecido de descer do ônibus. Ao instante em que descia do ônibus, do ponto que desceria ao ponto que desceu, o coletivo foi atingido por uma pedra gigantesca, somente ele morreu, pelo menos é o que sua mente remonta (um incidente em Juazeiro da Bahia). Agora ele já estava morto, com a certeza de que céu e inferno não existem, assim como a vida só tem graça se tiver sentimento, e todo sentimento é válido quando não há céu nem inferno. Por isso, portanto, não faz sentido ter medo de encontrar o temido. Medo? Morto teria medo de quê? Brás Cubas teve medo de algo? Talvez da própria vida. Porque ter a vida é ter diversas condições, correntes, cadeados, agora estava morto, estava livre. Agora livre, não queria mais viver. E até mesmo Deus, quando morto, é mais poderoso ainda.

J.D.S.G. tinha morrido. Permanecerá com a imaginação de que está vivo estando morto. E o tempo? O sentimento? As coisas? Os amigos? Tudo continuaria a mesma coisa com o imenso detalhe de ser visto, sentido, observado, amado por outro olhar, um olhar vivo de um morto. Insight:

Bem, quando bem morrermos estaríamos prontos para a morte?

De vez em quando, alguma pérola. De vez em quando, algum sopro. De vez em quando, alguma voz sairá intensa das minhas mãos abrangendo meus dedos, sendo sempre que a mesma voz pode não está por aqui, pois o vento é forte e a asneira é fraca. De vez em quando, perdendo a vida segundo alguns colegas festeiros, estarei ganhando a morte. A morte, irresistivelmente, não pertence somente a geração do mal do século. É ela a meretriz mais cara e barata, um ponto de interrogação em constante fluxo.

Insight:

Bem, quando bem morrermos estaríamos prontos para a morte?

Ele quer amar, mas sabe que não há controle. Ele quer seguir pensando estar morto, pode ser capaz. Quer viver morto. Uma única corrente não impede de ser livre: amar o próximo. Isso não seria uma corrente, diz o Nietzsche idealizado na sua consciência, seria um elástico.

Insight:

Bem, quando bem morrermos estaríamos prontos para a morte?

"(...)When i feel alive
I try to immagine a careless life
A scenic world where the sunsets are all
breathtaking"
(Scenic World - Beirut)

quarta-feira, setembro 8

Tudo que ando escutando e lendo sobre mim

2
"Você virou detetive, agora, foi?"

"Nietzsche!!!"

"Com exceção desse Menino(Diêgo, eu mesmo), ele é extremamente competitivo."

"Não sei se você me ama ou me odeia!"

"Esse menino é o cão!"

"Você é sempre indeciso!!!"

"Você é um cara que parece nunca ter conflito!"

"Menininho!!!!"

"e, o diego é, único."

"Você é exagerado!"

"vc vê mais problema q solução
vc não socializa facil
vc acha q as pessoas acham e logo se defende
vc pede pra ir ate o fim mas vc não vai junto
por essa nossa conversa toda
mais por isso eu te amo
mais q pote transparente
receptor
imagina squndo eu ler maquiavel
Eu sei disso tudo por que eu sou um porre
E tenho paixão por gente chata"

"A culpa também é sua!"

"Deixe de frescura!"

"Diêgo tá rebelde, tá me respondendo!!!"

"Meu anjo!!!"

"Você é um menino puro. De coração puro!"

"Mon amour..."

"Monalisa..."

"Que cara chato!!!"

"E as namoradas? Tô sabendo de uns boatos!!!"

"Você tem a mente aberta. Vai me entender!"

Kafka, Rimbaud, Nietzsche, Foucault, Gabo, Dostoiévski, Virginia Wolf, Beirut, Dido, Shakespeare, Gogh, Sartre, Chico, Caetano, Marisa, Calcanhoto, Rinaldo, Marcelo, Aristóteles, Marcelo Pereira, Renato, Almodóvar, Shyamalan, Allen, Nando, Thom, Cazuza, Vanessa, Proust, Grupo Dimenti, Epicuro, Sêneca, Heráclito, Kant, Bruno, Fernando, Allanna, Roger, Massaud, Marinalva, Licia, Jarbas, Murilo, Allisson, Igor, Neto, The Killers...

Tudo isso passa pela minha cabeça e se perde dentro de mim.
Já sou uma mistura de tudo isso.
Só isso tudo não me explica.

terça-feira, setembro 7

Sete de Setembro

2
Minha vó me disse que deitada sobre a cama próxima da janela escutava a banda passar, e ainda com dores do parto de minha mãe, no dia 07 de Setembro de 1968, conseguiu se sustentar nas beiras e observar o desfile e a comunhão de uma sociedade. E eu fiquei encantado, pois ela apontou para a janela e me disse com um tom tão suave e nostálgico.

Minha mãe tinha nascido, e minha história estava mais próxima de começar. Minha vó nasceu em 02 de Julho (independência da Bahia), minha mãe nasceu em 07 de Setembro (indepedência...exatamente) e eu em 27 de Março, um espírito louco por liberdade e amor intenso, um paradoxo, mas ainda não é independência de nada que eu saiba. Do teatro? De Tarantino?

Que a vida quer da gente durante a vida toda?

segunda-feira, setembro 6

Não era eu te amo

2
A- Quero te dizer uma coisa.

B- O quê?

A- Só sei que posso dizer que quero te dizer.

B- Não entendo.

A- Talvez, seja isso.

B- Isso?!

A- Talvez, você não entendesse.

B- Diga, vou entender, diga, por favor.

A- Falta um meio, um caminho, algo, o ar necessário para eu produzir o som das palavras...

B- Posso fazer alguma coisa para o som, enfim?

A- Pode. Pode, sim. Me ajuda, me ajuda a construir essa estrada, esse caminho, essa atmosfera. Você pode?

B- Onde você quer chegar?

(C entra e olha, sai)

B- Onde?

domingo, setembro 5

Indo e Vindo

3
Depois, você perceberá as coisas e as afastará para seu eu chegar até ti. E irá desentupir a janela do teu quarto para algum cheiro dormir do teu lado. A vida é assim mesmo, um misto de vontade e representação.

Aí depois, depois, eu me esqueço de regar as flores. E quando eu me lembrar, elas estarão prontas para o meu próprio sepultamento. Por que falhamos tanto em esquecer de nós mesmos?

Em seguida, depois do depois, eu prometo que procurarei seu olhar no reflexo do meu olhar e uma vontade imensa sufocará tudo que me deixa forte. E eu estarei fraco, mas serei forte. Mais fraco, mas terrivelmente e estupidamente mais forte. Forte, com a cólera suficiente para fazer do vidro estilhaços e fazer das minhas imagens, pequenas em cada caco, o teu sofrimento, o teu remorso, o teu definhar constante.

E quando a gente procurar pelo antes, a gente saberá que o antes já não existe. Pelo menos o antes da gente não mais existirá, posto que agora é tão somente e só seu.

E de que adiantará seu chegar próximo de ti mesmo, se eu estarei vigiando teu inconsciente e poderei provocar o desespero e ansiedade inútil? De que adiantará o aroma das flores do seu jardim, você recordará que são minhas flores preferidas e que eu sempre fui o jardineiro dessas flores que doravante serão ignoradas por medo de lembra-se de mim? Será você capaz de tirar todos os significados que construímos juntos?

Você consegue me entender agora e depois de não mais existir? Vamos, tente! Eu sempre estarei do seu lado ou no jardim de tua casa! Em verdade, nosso jardim. Eu beijava as flores e você me apreciara, eu tão rápido com minhas pequenas asas e você tão linda contra o vento feroz soprando seus cabelos dourados. Vamos, tente, dona do jardim!

sexta-feira, agosto 27

E quando parece ser

2
- Desde muito cedo não consigo pensar em outra coisa a não ser você. Por que você não me deixa em paz? Que prazer é esse em observar os sofrimentos alheios? Até quando você quer brincar comigo?

- ...

- Fale! Crie coragem!

- Eu não sei, às vezes, sou arrogante e tenho muita presunção. Me descul...

-Desculpar, claro que desculpo. O problema é o cansaço. Já te desculpei muitas vezes e sempre me arrependia de ter desculpado. Porque você é sempre culpado pelos dias mais tristes que vivo.

- Olha, eu penso da gente acabar logo com isso, cessar essa brincadeirinha que vivemos.

- ...

Lá vai ele com as mãos no bolso, o coração insensato e a cabeça estourando. De longe, ela o vê se distanciar e lembra de alguns poucos momentos felizes. Procura um senso comum, um mito que a conforte, e acha: Não era para ser.

Vira as costas e quer levantar a perna para o primeiro passo de uma nova mulher, mas algo pertuba-lhe a mente e insiste em prender os pés naquele local, conseguindo movimentar o tronco, apenas. E um barulho ensurdecedor penetra ao ouvido e se perde no labirinto com as lembranças daquele homem. Agora, estirado no asfalto e já não mais contrariado ele ficará até o fim dos dias no labirinto da ex-namorada. Não era para ser. Não era. Não.

quinta-feira, agosto 26

Inspirado nas mulheres de Chico Buarque

0
Se tivesse dito as palavras certas, na hora certa, no momento exato, no instante bendito. Coitado, estaria vivo! Vivo e pulsante! Latejante. Gotejante. Vibrante. Tenso. Virou água. Desandou. Solou. Solar? E existe esse verbo? Não sei.

Era para permanecer inquieto, mas envelheceu. Tornou-se mole, fraco. Eu disse para ele, isso iria acontecer. E agora não quer ser velho! Quer ser o mesmo rapagão de sempre. O mesmo raparigueiro. Se eu tivesse escolhido aquele poeta.

Nós mulheres somos safadas. Somos. Algumas, raríssimas, conseguem controlar a ardência. Eu, não. Não consigo. Sou do tipo feminista, mas homem tem de ser Homem na hora da cama. E mulher tem de ser mulher, porra! Por isso que escolhi ele. Porque ele sabia o tom certo da maldade. Se os homens soubessem envelhecer...

Um Homem Só

0
(Cadeira de balanço, homem só)

As cartas voltarão, não quero saber nada sobre Julieta. Nada, exatamente, nada! Se ela morrer, ora, morra! Vou deixar as coisas acontecerem sem interferir nos desígnios de Deus; mesmo sendo eu um ateu. Cansei de me responsabilizar pelas coisas e de levar uma vida cartesiana e de ser lógico. É. Cansei de ser lógico! Vou tentar me perder em confusão, meio de repudiar essa academia maldita que me roubou mais de doze anos de vida em troca de títulos para apenas aumentar dígitos na minha conta bancária. A duras penas lutei por amores, cansei, suspirei, imaginei e sofri. Vou tentar seguir uma filosofia libertina, abrir mão desses amores puros e castos. Cansei de amores puros e castos! Julieta, para mim, faz eu me sentir puro e casto. Porra, Shakespeare, você tinha que me criar assim? Seus homens sempre atormentados com sentimentos universais? Eu vou abrir mão dessa história, juro! Vou abrir mão. Esses nomes são deveras... eles carregam alguma coisa.

Deixarei as cartas voltarem. E a casa ficará com teias de aranha, se minha boca também ficasse. Deixarei a comida para as baratas. Esquecerei de escovar a boca. Abrirei mão do meu trabalho. Não atenderei o telefone. Esquecerei de mim e do mundo. E para mim, para mim, pouco importa o que o mundo pensa e acha de um homem só. Sou só e já não preciso do mundo para nada, a não ser para ler uns livros e saber que eles existem em caso de emergência. Vou tentar ser menos lógico.

quarta-feira, agosto 25

Ônibus certo

1
(Ponto para pegar o ônibus)

Ele não sabe o que acontece com ele. Ele parece não fazer questão de saber. Quer ignorar e ser ignorante e pleno na vida.

(Ponto para pegar o ônibus)

Pressionada pelos pais a entrar numa faculdade digna e num curso digno. Sabe-se lá o que é dignidade!

(Ponto para pegar o ônibus)

Atrasado em tudo. No trabalho, na festa, na escola, na livraria, atrasado sempre. Atrasado em conceitos. Conservador atrasado.

(Ponto para pegar o ônibus)

Ela pensa nele. Ela imagina o corpo dele na noite da primeira vez e será logo depois da aula.

(Ponto para pegar o ônibus)

Ele pensa nele. Tenta não pensar e pensa não pensando. Já é paixão.

(Ponto para pegar o ônibus)

Ninguém. Só o vento.

De longe, todos já atrasados, sabem que o ônibus não passará. Porém, continuam lá. Acreditam firmemente que ônibus vai passar, ele não passará.

segunda-feira, agosto 23

Conte comigo

0
1-2-3-4-5-6-7-8-9-10-11-12-13-14-15-16-17-18-19-20-21-"22"-23-24-"25"-26-27-28-"29"-30-31-32-"33"-"34"-"35"-36-"37"-38-"39"-"40"-41-42-43-44-45-"46"-47-48-49-"50"-"51"-"52"-"53"-"54"-"55"-"56"-58-59-"60"-61-62-"63"-64-65-66-"67"-68-69-"70"-71-72-73-74-"75"-76-"77"....

é nossa vida, é nosso tempo e são nossas escolhas.

domingo, agosto 22

Sabor Chocolate

0
Seu relógio quebrou, suas pernas ficaram roxas.
O laço da gravata se desfez,
o galho da árvore entortou.

A lua continua ali,
última companhia de últimas horas.

O relógio foi consertado, suas pernas melhoraram.
O laço foi dado,
o galho continuou entortado.

A lua continua ali,
agora, oculta, calada e escondida.

Veja o tempo como é,
e o que leva a cada coisa,
e quando podemos morrer,
e quanto podemos correr,
e como cada coisa pode ficar torta.

quarta-feira, agosto 18

Escutou o Pessoa

2
Depois de procurar por tantos lugares algo publicável, desconsiderando a imensa lista de rascunhos, o mortal autor pensou sobre muitas coisas, dentre elas: a devida diva ávida vida. Notou sua infinita finitude no poeta de linha reta, compartilhou alguns segredos e tantas outras frustrações. Diálogo breve.

"Há um tempo em que é preciso
abandonar as roupas usadas,
que já tem a forma do nosso corpo,
e esquecer os nossos caminhos,
que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia:
e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado,
para sempre, à margem de nós mesmos".

(Fernando Pessoa)

Emudeceu e aliviou-se.

sexta-feira, agosto 13

A Vida dos Outros

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Um livro. Um filme. Um quadro. Uma dança. Uma escultura. Todas as artes ditas representações de vidas. Porém, quando a vida é a própria arte e meio de admiração, êxtase e catarse, o valor da privacidade fica submetido a alguma coisa. Talvez, o que decide ser privado ou não é a relação do autor entre os personagens e o leitor. Tá difícil?

Tente assistir:

A Vida dos Outros (Das Leben Der Anderen)
*Ganhador do Oscar 2007 de Melhor Filme Estrangeiro
Diretor: Florian Henckel von Donnersmarck
Roteirista: Florian Henckel von Donnersmarck

quarta-feira, agosto 11

Ele chegou

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Estava a sua espera, aqui na varanda de minha casa. Sentia que ele chegava de algum lugar pelas ruas de Juazeiro. Os ruídos, o roncar, o vruuuum das motos eram suficientes para abandonar o curso virtual de Metodologia Científica, para saber e ver se era ele.

Foram dois toques na campanhia. Dois. E eu sabia que agora é, pensei agora será. E era. Proust. Meu sonho mais distante ali perto de mim. Eu e ele que não tinhamos tido nenhum contato. A única coisa: olhares. Meu olhar de vontade lançado no dele, o olhar sublime daquele jovem que eu queria.

Marcel Proust nas minhas mãos. Eu abraçei. Esqueci de beijá-lo, mas ele é meu e tempo tenho, e vou perder e buscar tempos perdidos, uma coleção completa! Com os relógios quebrados e os ponteiros desajustados, a gente vai deitar sobre a cama e deleitar os nossos corpos tácteis, compartilhando junto as temeridades dos nossos inimigos em comum: o fogo, a umidade, os animais, o tempo e o próprio conteúdo (cantaria Caetano Veloso, na música Livros, numa trilha linda feita para a minha leitura, embora prefira Ne me quitte pas).

Comentário inoportuno: considerando o histórico das minhas relações com "Marcelos", todos que conheci foram marcantes. E também, teve uma Marcela. A última marca anterior a Marcel. Meu conceito de marcante é sinônimo de cicatrizes, quase influências, inesquecível.

Veio vestido de azul. Em três tonalidades azuladas. Azul como a imensidão do céu e o mistério por cima dele, o próprio céu, no caso, na profundidade. E antes de me considerar suspeito como heterossexual, hoje estou me deitando com Friedrich Nietzsche, ainda tenho a Virginia Woolf esperando a oportunidade de atar-me entre as pernas. Depois, se quiser continuar me rotulando de qualquer outra coisa, siga em frente, não domino o fluxo de pensamentos alheios. Por fim, eu sou assim mesmo: fácil, devasso, lascivo, Independentemente da opção sexual, sou assim para todos os quais permanecem na prateleira do meu quarto. O segredo é que, muitas vezes, eles se materializam; os acontecimentos são outros tantos.

segunda-feira, agosto 9

O Perceber, O Notar, O Entender

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Tem a cabeça muito grande. Os braços debilitados e as pernas sempre prestes a correr. Os dedos calejados, na mão e no pé.

Tem o coração grande e espaço suficiente para sempre amar mais, ter mais, querer mais. Seu peito é largo, por isso, talvez, se coloque na linha de tiro. Suas unhas são miúdas, sem garra para conseguir tudo acima de qualquer outra coisa. Abre mão de amores, flores e amizades, ainda com as unhas tão bem cortadas. Os olhos profundos e complexos, aguados de tanto sofrer pelo que pode fazer e não faz. Na palma da mão ele tem um "M" igual a muitas pessoas. Um dia ele encontrou um "R", depois, um A, em seguida, um "O". Foi a uma cartomante sem conhecimento de quirologia e ficou sabendo da mulher de sua vida viver em ROMA.

Ela não estava lá.

E estudou matemática. Fez anagramas. Permutas. Teorias. Fórmulas. Cego por não colocar as coisas em ordem. Tinha perdido a beleza do poder da simplicidade, algo fácil no mundo louco e ritmado descompassado. E usou a mente. Usou o olhar desabitual:

A-B-C-D-E-F-G-H-I-J-L-M-N-O-P-Q-R-S-T-U-V-W-X-Y-Z

Na sua mão, AMOR. Lembrou das horas do banho e do arrepio do sabonete esfregado na pele. A mão na pele, em toda pele, por toda pele pelada. Amara a si mesmo, e não notara. Já era tarde, estava em Roma. Havia guerra e uma bomba explodiu.

Desfigurado no ar, percebeu a proporcionalidade interior sintonizado aos membros. Em fração de segundos, reconheceu o valor de cada parte já separadas no ar. Como se sobrevivesse entre a morte e a vida e notasse o fim da arquibancada.

A cabeça muito grande se foi, direto ao chão, ensaguentada de racionalidade vil. Os braços debilitados e as pernas sempre prestes a correr, foram inúteis na hora da morte, e o pior, durante a vida toda. Os dedos calejados, na mão e no pé; único orgulho de ter usado alguma coisa. O coração grande alimentou uma matilha faminta. As unhas miúdas desapareceram quando quis no último instante permanecer vivo. Agarrou no carro, lá elas ficaram a sós. Um corpo inútil, um espírito arrependido. Havia guerra e uma bomba explodiu.

quinta-feira, agosto 5

Sobre as Turbinas e o Combustível

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Faço-me de intruso no meu próprio ser. Querendo descobrir o fator fortalecedor propulsante na decorrência dos dias sucessivos. Eu só quero esclarecer o que fazer com mais quarenta anos de vida. Apesar de pretender cem anos, imagino o sessenta para não me decepcionar.

Precisamos de uma definição para acordar audacioso durante toda a vida. Mais: precisamos de um objetivo utópico, daquele chavão do Plano A e Plano B. Se não fizermos isso estaremos condenados ao tédio, fadados ao tédio. E seremos pessimistas, depressivos, niilistas... Gosto desses adjetivos. Com certa distância, me faz lembrar personagens brilhantes! Desses adjetivos, só numa fase!

Resta-me a arte para gozar da vida sem meter as mãos na calça. Ainda assim, sem necessitar de um espaço acolhedor. Já que um dia isso não funcionará mais, nesse ponto estou muito a frente de muitos homens reduzidos à "esponja cavernosa".

segunda-feira, agosto 2

Aqui, ali, lá

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Definir as coisas pode ser delimitar as coisas, compreendendo a extensão dela em dado contexto.

Falar o que é amor é ao mesmo tempo falar o que vejo, como vejo e quanto sinto. São coisas tão complicadas de haver um discernimento, uma pureza dita cientificamente social.

Positivismo. Colírio. Óculos novos. De que forma queremos enxergar o mundo? Onde estamos não propicia uma interpretação diferente?

(Inspiração de um grande. Grande Bruno*, grande Bruno!)


*Professor Doutor em Literatura...

sexta-feira, julho 30

Vontades Recentes

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I) de tocar violão e cantar, cantar, cantar...

II) de escandir um poema.

III) de entender, compreender, saber, viver tudo isso.

IV) de ter (ou confirmar a existência já presente em minha vida) de amigos espertos, inteligentes, sábios, amigos.

V) de assistir a peças teatrais, degustando vinho.

VI) de dialogar um papo abstrato, sem me perder.

VII) de ser doutor. e ser perfeito.

A água voltou

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e com ela veio a vontade de permanecer por aqui.

quarta-feira, julho 28

Cortaram a Água dos Apartamentos

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Cortaram a água de minha casa. Moro num apartamento, são exatos oito apartamentos. Oito famílias sem água (para dramatizar a situação, +ou- 7 crianças, 2 senhoras de idade, +ou- 5 jovens, +ou - 15 adultos e o meu irmão adolescente, o único adolescente, graça ao pai!), uma tristeza ter de descer (e subir, o pior) pelas tantas escadarias, um degrau que antecede mais ou menos 60. Situo-me no apartamento 07, o último é o 08.

Balde pra cá, almoço em outro lugar, não tomo café, ainda bem que o trabalho não começou. Já pensou? Que sofrimento! Que tristeza!

Culpa da mulher do apartamento 01, ela que não pagava as contas desde 2005. Quase R$ 5.000,00 de débito. Geralmente, quando moramos em apartamento, há uma bomba que empurra a água para cima e despeja numa caixa comum cujo papel é redistribuir a água às demais caixas. A caixa responsável pela redistribuição é a caixa do apartamento 07. Logo, ficam todos atrelados a uma caixa e, principalmente, a mulher do apartamento 01 que possui a bomba numa varanda.

Mediante a tudo, o pior é imaginar que há a possibilidade de mudança de casa, algo que eu não gostaria de jeito nenhum, a não ser que fosse para minha casa definitiva, propriedade da família, num condomínio, sonho de infância! A dona do apartamento 01, ai, ai, estava era namorando no Gol Vermelho do namorado, ontem à noite. E o proprietário dos apartamentos, um tal de João Santana, disse:

- Se quiserem, saiam!

Após ter sido ameaçado por abandonamento dos lares de todos os moradores.

Nunca morei numa casa que fosse minha. Sempre nas casas dos outros e pagando aluguéis. Sinto um pena tão grande de minha vó; ela faz as contas em todo começo de findar dos meses. Num papelzinho, ela me amostra e diz a situação, isso desde eu ter meus doze anos. Embora, escutasse ela falando para os outros quando tinha meus sete anos. Cresci condicionado a isso, objetivando isso, clamando a Deus por isso. Isso o quê? Isso da casa própria. Deus queira que essa seja a nossa última penitência, antes de concretizar a maior abstração de vida da minha família.

Fico aproveitando essa situação como se fosse a última desgraça, um último acerto nos caminhos das vidas. Mas, estou sem água, logo morando a menos de um quilômetro do Rio São Francisco. Ironia pura. Só poderia ser coisa do meu Deus Marquesiano. Rir ou chorar? Bem, não sei. Para ambos os sentimentos precisarei de água, eu estou sem água.

(Suspenderam o fornecimento de água aos apartamentos, se caso faça redação, seja purista ou qualquer filho da puta desses que deseja o escrever/falar correto em meio a quaisquer crises)

Observação: Tudo aqui citado, narrado, exposto é real. Atente ao marcador da postagem e verá "Não-Ficção". Esclareço mais, eu sou o narrador personagem.

sexta-feira, julho 23

Miss Srajevo e a infame condição humana

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(A banda irlandesa canta e desencanta a capacidade fantástica da sociedade conivente às maiores atrocidades sociais. Sendo mais preciso: enquanto havia mortes e mortes em determinado país, havia por ali o concurso de Miss. É a futilidade anunciada desde já. Escape, placebo, elementos paliativos?! Aqui, nessa música e nesse discuro, encontro reforço no que mais me pasma, me assombra, me fascina na vida, é o tão breve e tão longo Tempo; seja na bíblia em Eclesiastes ou na voz de Bono Vox).

Há momentos para ficar afastado
Momentos para desviar o olhar
Há momentos para baixar a cabeça
Para ir em frente com seu dia

Há momentos para usar kohl e batom
Momentos para enrolar o cabelo
Momentos para fazer compras na avenida
Para encontrar o vestido certo para se usar

Aí vem ela
Todos se viram para vê-la
Aí vem ela
Para receber sua coroa

Há momentos para fugir
Momentos para beijar e sair comentando
Há momentos para cores diferentes
Nomes diferentes que você acha complicado escrever

Há momentos para a primeira comunhão
Momentos para East 17
Há momentos para voltar-se a Meca
Há momentos para ser miss

Aí vem ela
A mais bela recebendo a coroa
Aí vem ela
Surreal com sua coroa

Você diz que o rio
Encontra seu caminho para o mar
E assim como o rio
Você virá para mim
Além das fronteiras
E dos desertos
Você diz que, como o rio
Semelhante ao rio
O amor virá
Amor
E eu não consigo mais rezar de forma alguma
E eu não consigo mais ter esperança no amor de forma alguma
E eu não consigo mais esperar pelo amor de forma alguma

Há momentos para amarrar fitas
Há momentos para árvores de Natal
Há momentos para arrumar a mesa
Há momentos quando a noite está congelante

(Letra da música "Miss Sarajevo", U2)

E seus momentos, como têm divido, como têm sido? Eles são seus?

domingo, julho 18

Uma Possibilidade

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Senhores leitores e Senhoras leitoras, senhoritas e moços, moças e rapazes, meninas e meninos, homens e mulheres, vírus virtuais, informo:

HÁ UMA MONTÁVEL POSSIBILIDADE DE DIMINUIR O NÚMERO DE TEXTOS NO BLOG.

Vai ser melhor assim. Menos textos e mais qualidade, mais palavras intumescidas e tempo para eu ler e aperfeiçoar na labuta. Então, para ser bem preciso, fecharei um acordo com restritos e adoráveis leitores. Bem simples. Mensalmente no mínimo 2 publicações, no máximo 12.

A cabo, digo:

+ou- 4 (referência de leituras)

+ou- 2 (de caráter pessoal)

+ou- 3 (de caráter filosófico)

+ou- 3 (carta branca, livre escolha, elemento surpresa)

Espero não ter sido efusivo com tal decisão. É tempo de ler muito, escutar muito, pensar muito, questionar muito e falar pouco, falar o suficiente, falar o necessário, falar o que precisa ser dito. Para um dia descarregar nas páginas de um livro, tudo, tudo aquilo que ficou entalado. Vamos em frente, doravante... Julho é livre; Agosto, não.

Abraço, beijo, carinho.
(Qualquer proposta, sugestão, será bem acolhida)

Aquele Olhar de Brisa

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(Monte as peças, acerte o jogo, decifra-me ou devoro-te!)

Hipnotiza, concorda? O olhar, aquele olhar machadiano e se não for do estirpe, mais elevado será. Eu digo mesmo qualquer coisa por aqui, como se estivesse alado nesse espaço irreal(Realidade, que seria?).

Sem o menor relacionamento para elogios e críticas, sobrevivem os críticos que criticam qualquer coisa independentemente do nível afetivo, social, econômico das coisas criticadas. Não, não me coloco no papel de um crítico bonzinho ou mordaz; isso é só um argumento para caso o alvo do texto venha a ler.

O olhar de brisa é terrível, porque você pensa que é uma brisa qualquer, e não é, acredite. Vem um vento quente e depois a inflamação contagia o espírito (dos sensíveis a olhares) e há a invasão, sem pedir licença e sem pagar pedágio, de todos os seus sentidos. Pelo menos é assim comigo. E é bom está de longe quando se observa; consigo imaginar, fomentar, fermentar as coisas.

Eu vou treinar muito para fazer um olhar com brisa. No teatro, num espetáculo... um olhar desses... no cinema, nas novelas... um olhar desses... descontruiria qualquer base filosófica. Mas, um olhar desses é fácil de perder nos olhares de homens malditos ou mulheres malditas que não reconhecem a preciosidade do brilho daquele olhar.

E tem olhar pra tudo, já notou? Olhar pra dizer não, dizer sim. Olhar pra mentir, pra falar a verdade. Brisa tem um estorvo no olhar, uma calmaria e uma intensidade que faz qualquer um levantar da cadeira (ou permanecer sentado e aflito por não ter postura). Feito olhar para o mar calmo e repentinamente sentir um maremoto. E lógico, tudo naquele rosto dá ensejo e moldura as amêndoas, a tão dita "Janela da Alma", pobre chavão, redutibilidade infame.

É muito díficil encontrar um olhar com brisa, principalmente para mim. Vale, definitivamente, vale a fugacidade de instantes; vale para prostrar-se diante das reminiscências...

MODE OFF: Se o ato de ignorar-me não existisse, eu não escreveria tudo isso. Penso ser minúsculo, desprezível e reles refletido numa partícula de suas pupilas, um espaço tão pequeno cujo retorno é quase a não-existência. Um dia eu te dedico uma personagem, e você nunca saiba disso. Sei-lá, depende muito da "aleatoriedade" das nossas escolhas.

sexta-feira, julho 16

Intervenção Urbana

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"Bom Dia. Gostaria de te dar uma palavra, eu posso?"

A cidade corre, os carros correm, as pessoas andam (correndo) e a gente estava tentando pará-las. Coisa de teatro, dessa gente que pensa que pode mudar um pedaço de terra sagrado um dia já citado por J.D. Salinger. As pessoas, assim, rápidas e sem pensar muito, parecem robôs programados para resolverem problemas, saca? Problema, música impecável do grupo musical Titãs?

"Cada qual com o problema que lhe convém
Quem não tem invente
Pegue de algum parente
Mastigue pedra pra ter dor de dente
Escreva uma carta para o presidente
Arranje um problema para ser mais decente
Se você quiser eu te dou um de presente
Invente o seu problema"


Eu mesmo, nessa idéia de jogar com os transeuntes, levei uns quatros tocos.

Estou apressado. Se for coisa de evangélico, não quero ouvir. Rápido que tenho um audiência.

Eu tentava estabelecer uma relação justamente com essas pessoas "apressadas", mas, porra, elas realmente tinham um objetivo e por isso andavam (correndo). Quem sai por aí andando sem rumo? Talvez, até os loucos andem com um propósito: o de se perderem.
Por isso, não tiro a razão dessas pessoas machucadoras de intervencionistas urbanos. Não, não tiro. No entanto, esses intervencionistas muitas vezes não as encontra ao acaso. Foi dessa forma e dessa palavra com a Dona Ivone, linda senhora, uma flor esquecida no jardim e cercada de uns homens que pareciam proteger aquela preciosidade rara. Homens de moto-táxi ao redor da banquinha de doces.

Dona Ivone foi a terceira pessoa abordada. Antes dela, tentei abordar uma senhora corpulenta e fracassei. Em seguida, abordei mãe e filha de mãos dadas, e perguntei a bússola do projeto: O que é Nostalgia? Elas demoraram um pouquinho para responder, até pronunciarem a palavra que eu menos esperava como primeira definição de nostalgia. Fulminante: SO/LI/DÃO. Quem me conhece, sabe. Sabe que essa palavra remete facilmente ao meu vocabulário próprio e associa-se efetivamente com ele, com quem? O destinador de Cem Anos de Solidão. Aí depois veio Dona Ivone.

Não tive como fingir para a flor esquecida no jardim, embora eu tenha tentado. A senhora foi me descontruindo, arrebatava toda coerência do jogo dramático. E foi falando, me dizendo, escutava, opinava. Sabe quando você num dá nada por uma pessoa? Sabe quando você pensa que é só mais uma pessoa? E de repente é tudo muito maior? Exatamente assim. Eu queria muito encontrar uma pessoa afetiva. Coisa de neto apegado a uma avó. Dentre as profissões possíveis se não fosse o mundo literário, não hesito em dizer que seria Médico. Geriatra. Médico Geriatra. A definição de nostalgia da D. Ivone? Em breve coloco aqui: "...". É que quero as palavras exatas as quais não lembro e permanecem anotas no caderno da minha amiga Ádila.

Foram muitas definições sobre Nostalgia. Muitos olhares também. Teve uma outra senhora, de pele escura, que acreditou tanto nas minhas palavras... Eu a disse que o dicionário (eu carregava um dicionário) não me servia, pois a definição não correspondia ao meu sentimento. No dicionário Aurélio: Saudade da pátria; saudade. E ela olhou para mim, intrigada e cheia de compaixão, "esses dicionário não diz mesmo o que a gente quer não". Emudecido fixei o olhar no olhar dela. "É saudade de alguém, só que eu não sei quem é, saudade de alguma coisa".

- Eu perdi um tio...

- Ah, é isso. É isso.

- A senhora também tem isso?

- Tenho, meu filho. Eu tenho. Tenho saudade de minha filha que viajou agora, um dia desse.

Cada preciosidade. Cada pessoa brilhante passa pela gente e a gente passa por ela e nada acontece, a não ser um vento frio cortado por corpos andantes (correntes, corridos, que correm).

domingo, julho 11

Eu Perdi um Filho

5
Minha vó sempre diz aqui por casa e sempre reafirma quando alguma senhora murmura em reportagens sobre a morte dos seres paridos. Ela diz: "Só sabe da dor quem perde".

Hoje, fui à aula de teatro. Não iria, ficaria em casa estudando os conteúdos do concurso do Ministério Público da União não fosse a ligação do Sandro. Ele é um estudante de teatro, amante, apaixonado por Cinema; me ligou para saber qual filme eu tinha pedido e eu o disse: "Once".

Pronto. Por isso que fui ao teatro, especialmente para pegar o filme Once (traduzido em versão brasileira para "Apenas uma Vez").

Antes disso, nas aulas anteriores de teatro, é preciso citar, estava envolvido na elaboração de um projeto de intervenção urbana cujo subsídio para idéias seria um texto de Julio Cortázar, Carta a uma Senhorita em Paris. Desse conto resultou o mirabolante plano de criarmos ovos de galinha. Eu disse criar, criar mesmo, estabelecer uma relação de família, uma intimidade, uma cumplícidade. Concepção minha e da linda Ádila, estudante de Letras, Ciências Sociais e Teatro.

Eu não sabia dos acontecimentos da aula quase preterida por estudos, compramos os ovos. E pintamos os ovos.

O mais triste e revelador vem agora.

Já acabado de pintar meus dois ovos, pois seriam três filhos para cada um, peguei o próximo. Fui pintando e descobrindo aquela preciosidade pequena na palma da minha mão; tinha feito os olhinhos, a boquinha, o narizinho e terminava de pintá-lo totalmente numa mistura de cores. Ele estava ficando lindo. Estava com mais cuidado com o último, aí descobri a realidade minha. Filhos mais velhos têm chances maiores de servirem como cobaias de tratamento, assim aos poucos a gente vai adquirindo cautela e precisão no tratamento. Foi assim com o caçula.

E de tanto pintar com os dedos, num vacilo abissal e mortal, meu dedo penetrou a finíssima casca e fez um buraco de onde escorreu seu sangue claro e transparente. Uma perplexidade me tirou de mim e me deparei com aquela cena infame. O sangue na minha mão e a casquinha ainda perfurada por um pequeno buraquinho. O rostinho recém-pintado se desconfigurando. Fiquei parado e espantado por longos dez segundos malditos. Limpei o sangue dele, lavei o seu corpo e roguei a Deus para que ele volte em sangue e pele para que eu possa me desculpar pelo ocorrido.

E analisando, observando e sentindo essas dores me assentei na crueldade da vida quando tratamos tanto de uma coisa e essa coisa se perde por fora de nossas mãos. O corpinho dele está aqui em casa, assim como seus dois irmãos. Em breve, muito em breve faremos o velório e terei de abrir mão de tudo que foi construído com meus filhos ovos.

Claro, o nome deles. Gabo é o mais velho, o nome é homenagem ao meu escritor supremo, quer saber? Procure no google. O filho do meio, que seria o mais novo se eu não considerasse o pouco tempo do falecido filhinhos, se chama Woody, homenagem ao Woody Allen (sugestão do Sandro). E o mais novo, morto pelos cuidados excessivos das minhas mãos, chama-se... Eu fiquei pensando o tempo todo no nome dele enquanto pintava-o. Não serei mentiroso, não inventarei um nome que não tinha inventado. Portanto, o nome dele é o nome do meu sentimento e ao sentimento que minha vó diz nas palavras de só saber a dor quem passa por ela. Talvez, seja isso, algo sem palavra e sem tempo o suficiente de resumir em parágrafos, opiniãos e poeticidade. É inefável, inexprimível, inexplicável.

Amo vocês, filhos meus.

sexta-feira, julho 9

Controle

4
O Controle de sua vida funciona?

Controle seu tempo e me diga a receita.
Controle seu carro e me diga seu mecânico.
Controle compra-se onde?

Você controla suas compras?
Seu destino é seu?
Sua vida é só sua?
Tem certeza?

E seu controle vai bem?
Controle sua raiva ao ler tantas perguntas.
Você consegue controlar seu controle?

O amor é controlável?

Controle-se, vamos lá.
Pense no seu controle,
controle sua mente,
responda-se.

Bruno

0
E quando todas as bolas passam por você e suas mãos já atadas pelos gritos da sociedade não reconhecem as funcionalidades de outrora?

E agora?

Quando tinhamos sido campeões de 2009, quando tinhamos sido glorificados por tantos torcedores apaixonados. E agora? E agora que você está aí nesse abiente fechado, já calado e trucidando a própria mente; vai querer morrer, né? É o único jeito. O arrependimento é tanto quanto o arrepender de querer ter permanecido vivo. Vivo?! De que adianta a vida, você deve está pensando.

De herói até vilão há um certo tempo. Tudo estava preparado, se fomentando para o desfecho da festa. A festa acabou. Ver-te assim é puro senso do fantástico. Um rosto tão conhecido que invadia as casas aos domingos é o mesmo rosto que nunca mais se quer observar.

Olhar para você nesse uniforme laranja e saber que não é um jogador da Holanda, na final da Copa do Mundo, é como estivéssemos olhando para um abismo da realidade. Essa realidade tão profunda que maracará a vida de muitos jovens da minha idade. Nós falaremos na nossa velhice e lembraremos desse tempo e desse destino atroz do goleiro do time de maior torcida de futebol brasileiro.

Pobre homem, pague o preço inefável de uma vida!
O mais sensato é pagar com a tua própria; é até mais barato do que a pensão, no seu terrível valor e senso moral.

Pobre homem, Pobre espírito. No teu olhar as lamentações ressentidas de um ato arrependido, mas duro como pedra.

quarta-feira, julho 7

Ahahdtwueisodp

1
Tgdhasgw amanhã qkwjjdkw, rtwbdjwdiwd, wjdjwhduwdjw. Omajdhajs Jjadjakska o akdjakao que Jkadkak noeiwn mejwke é yehwhew yey fjfhw fkwkdjw reyyweyryw wrwrdbkdvpe wkdwh fhgogpx ldce outro cdgdcjvcm bdv nsmf ,dlfjs dia dhwtdbw rm rpr rprpprpr mais fsjdhe Gfaydadk flsldso rprwprw DÍFICIL.

segunda-feira, julho 5

Clack, Clack, Clack

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Alguns segundos da sua vida.

sábado, julho 3

Sobre Hoje

1
e os restantes outros dias...

Desejo, ardentemente, virar ar e flutuar por aí espalhado. Eu tenho me sentido tão abstrato, tão distante, distante do mundo e bem próximo de mim mesmo: tenho me reconhecido feito antes e agora.

Na verdade, eu estou completando o quebra-cabeça da minha personalidade e de quem serei de verdade antes de entregar meu corpo a personagens. Faço teatro, você já deve saber. Sempre tive medo de me perder entre livros e humanos fictícios permanentes e influenciadores; estou me firmando, estou amadurecendo. É tão lindo amadurecer. Sabe o motivo?

A gente descobre a vida incontralável, as coisas incontroláveis e o poder do acaso. Acaso? É o acaso que somado com seus parentes casuais formam o destino. A gente descobre a graciosidade do mais importante em nossas vidas: o tempo. A gente reconhece a conveniência do tempo de amar, sofrer, chorar, rir, calar, emudecer. Há o deleite nas pequenas coisas e a satisfação de saber da sua existência.

Têm pessoas não sensíveis a nada do citado no processo de amadurecimento, elas escolhem outros caminhos. Algumas se empenham em nadar contra a correnteza voraz das horas e se agarram e ficam. Ficam no lugar já estado outrora, e ficam, ficam, ficam. E, de repente, querem ir... porém, vão só. Sozinhas sem correnteza e caladas, e inimigas de si.

Carambola, que diabos hoje aconteceu para você está sentindo tudo isso?

Em linhas rápidas: acordei no horário habitual, almoçei com minha vó, assisti ao jogo da Argentina e Alemanha, fui ao teatro, caminhei sozinho pelas ruas de Juazeiro. E o resto? Tudo está aí, colega, tudo está aí pelo durante. Durante o almoço e olhar doce de minha vó que certo dia me deixará sozinho no planeta. E eu sinto isso, sabe? Sinto essa certeza amarga se fortalecendo como uma espinha que se forma na face e deixa a aspereza no local certo (ontem, eu espremi uma espinha, espinha original mesmo, e apertei muito para ser presenteado com o liquido amarelo-ouro da vitória sangrenta do final).

No dia certo, na hora certa o relógio vital de meus parentes mais próximos expirará. Eu verei meus netos e deixarei-os. Morrerei como qualquer mortal. Será meu fim. Saber disso já me deixa vulnerável.

(O Hoje do texto refere ao dia 03 de Julho de 2010, o texto foi escrito na transição do dia 03 para o 04)